Desde o início da pandemia a Avante-Educação e Mobilização Social vem ouvindo jovens, professores, mães e educadores em sua série: Vozes na Pandemia – uma contribuição nas necessárias reflexões para construção dos dias vindouros. E hoje chegou a vez de darmos voz à professora Selma Cristina Silva de Jesus, que está enlutada com as perdas da COVID-19, mas não perde a esperança por dias melhores.
Depoimento: Selma Cristina Silva de Jesus
Professora Adjunta da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia.
Sou professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia (EDUFBA), mãe, esposa, irmã e filha. Vi minha rotina mudar radicalmente desde o dia 18 de março de 2020, quando a UFBA suspendeu as atividades presenciais por conta da pandemia provocada pela COVID-19. Uma doença altamente contagiosa e que nos levou a adotar a politica do distanciamento social. De repente, a universidade está fechada, eu estou em casa, realizando o trabalho remoto (pesquisa, revisão de aulas, orientação e coordenação de um centro de pesquisa), e sem contar com a rede de apoio de antes (babá ou creche, familiares, etc.). Eu e meu companheiro tentamos dar conta do trabalho remoto (ligado às nossas função na universidade) e doméstico, que envolve o cuidado com a casa e com nosso filho, que tem 1 ano.
Associa-se a isso, a avalanche de sentimentos (muitas vezes contraditórios) que temos nesse período: o medo da morte, a tristeza por tantos que se foram, a esperança em dias melhores, a saudade dos familiares e amigos, a alegria de ter uma criança de 1 ano por perto, o cansaço físico e mental, etc. Hoje, no momento em que escrevo este depoimento, o Brasil atingiu a triste marca de 20 mil mortes resultantes da COVID-19. Isso é simplesmente impactante. Penso na dor das pessoas que perderam os seus familiares e amigos e me solidarizo.
Diante de tantas mortes, o sentimento de impotência é inevitável. Há milhões de pessoas sem emprego, o auxílio emergencial do Governo Federal não chegará para todos e as ações erráticas do governo federal aumentam o clima de incerteza e tensão. Tenho consciência de que precisamos ser fortes para resistir à crise sanitária e política que vivemos. Não está sendo fácil, mas resistiremos! Parafraseando Gilberto Gil: “Andar com fé, eu vou. A fé não costuma faiá”. Tenho fé em dias melhores, penso que haverá um tempo (não sei se perto ou longe) em que poderei abraçar os meus amigos e familiares sem que isso represente um risco. Por enquanto, sigo em quarentena e peço a você que, se puder, fique em casa. Aquele abraço virtual (tão característico deste tempo difícil em que nos encontramos).
#VozesnaPandemia – sentimentos, dúvidas, questionamentos … que emergem nesse momento entre jovens, professores, mães, educadores, quando a vida nos convida a refletir sobre situações do dia a dia, ressignificadas em tempos de isolamento social compulsório… Uma contribuição da #Avante nas necessárias reflexões para construção dos dias vindouros!