Entres os muitos sonhos entre os moradores da Ocupação Quilombo do Paraíso, há um, em especial, que toca todo o coletivo: moradia digna e cotidiano tranquilo, sem violência. O projeto Estação Subúrbio – nos trilhos dos direitos (Avante e KNH) promove momentos de aproximação do sonho com a realidade. Um desses momentos aconteceu no dia 31 de outubro, quando a comunidade recebeu o teatro de fantoches Casinha dos Sonhos, uma adaptação do premiado livro Pipo e Fifi, de Carolina Arcari. A peça é do núcleo de teatro Sonho em Movimento, do projeto Refazendo Sonhos, do Instituto Aliança, também apoiado pelo KNH.
A obra foi adaptada para o teatro de fantoches para tornar mais acessível às crianças a temática da prevenção à violência sexual e a abordagem de conceitos básicos sobre corpo, sentimentos e convivência. De forma descomplicada, a peça ensina a diferenciar toques de afeto e com respeito, de toques abusivos, apontando caminhos para a prevenção e proteção. No Brasil, segundo boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, as violências acontecem 81,6% das vezes por uma pessoa do sexo masculino, com vínculo familiar ou proximidade com a família. Ou seja, pais, tios, avós ou amigos próximos, principal motivo para crianças e adolescentes temerem a denúncia.
Para Bruna Gabrielle, 15 anos, atriz do projeto Refazendo Sonhos, a peça possibilitou trocas muito interessantes com a comunidade. “Todos interagiram o tempo todo conosco. Durante a apresentação fizemos perguntas às crianças e elas acertaram todas! Tenho certeza que houve muito aprendizado sobre o que uma criança precisa fazer em situação de risco e como se proteger de uma violência sexual”, disse. “Aprendi que posso contar e que as pessoas não podem tocar nas nossas partes íntimas”, disse Leonardo Alves, 11 anos, após assistir à peça. Já Miguel, 12 anos, aprendeu sobre limites: “Falou do sim e do não, que não podemos mexer em partes íntimas das outras pessoas se elas não quiserem”. O público da Ocupação Quilombo do Paraíso é formado por crianças e adolescentes que se enquadram, segundo dados do Ministério da Saúde, como as principais vítimas de abuso: crianças entre um a cinco anos, e entre 10 e 14 anos, em sua maioria negras.
Utilizar o lúdico e a arte, tem sido um caminho estratégico para promover aprendizagens e diálogo com as crianças e adolescentes. Para Zé Diego, educador brincante do Estação Subúrbio, a chegada de um evento cultural foi impactante e mobilizou a comunidade: “todas aquelas cores, o cenário, mesmo sendo tudo simples, foi muito impactante. Foi fundamental que tenham tido acesso a essa dinâmica, e poder ver os jovens, outros pares, atuando de formas diferentes, pensando e falando sobre temáticas que os afeta diretamente. Levar arte e cultura, promover o debate e a educação são muito importantes”, disse.