Quem vive em comunidade sabe o quanto é fundamental contar com o outro, estender a mão e viver coletivamente. Cada dia é preciso se reinventar, buscando formas de enfrentamento e resistência, como fazem os cursistas do projeto “Comunidades Ativas”, que depois de uma imersão em Recife (PE), conhecendo algumas comunidades, lideranças e organizações sociais, voltam entusiasmados com a experiência, pensando em novas estratégias para a ação comunitária nos seus bairros.
Acompanhados da equipe técnica do “Comunidades Ativas” e dos representantes do Instituto Camargo Corrêa, Edivânia Assis e Bruno Fioravante, 38 cursistas visitaram a capital pernambucana, entre os dias 5 e 7 de outubro, como parte do Trocando em Miúdos, uma tecnologia social da Avante – Educação e Mobilização Social que promove o intercâmbio de experiências, dando oportunidade aos agentes sociais dos bairros de Calabetão, Jardim Santo Inácio e Mata Escura de conhecerem outras realidades, de visitarem experiências exitosas em organização comunitária, dialogando com suas lideranças, e contato com organizações sociais atuantes na cidade, a fim de conhecer mecanismos de resistência e luta por direitos sociais básicos.
Durante a estadia, foram visitadas as comunidades de Ilha de Deus e do Bode, no Pina, bairro historicamente ligado a movimentos populares organizados contra a especulação imobiliária e a exclusão de moradores antigos do processo de modernização. “Na Ilha de Deus, conhecemos as histórias, experiências e os equipamentos sociais que eles têm, coisas que vislumbramos como proposta do curso, de estarmos mais articulados, das comunidades se unirem, de usarem as potencialidades de cada um para favorecer um melhor desenvolvimento local. A gente percebeu isso na Ilha de Deus”, conta Delson Teixeira, agente social de Jardim Santo Inácio.
A experiência aproximou comunidades baianas e pernambucanas, cujas histórias alternam semelhanças e diferenças, aguçando ainda mais o olhar de cursistas como Francisca Ladislau, a agente social do Calabetão. “Tivemos muita troca de experiência. Entramos em contato com situações diversas dentro das comunidades, pudemos fazer comparações entre as que visitamos e as que habitamos e isso nos trouxe uma valorização do que temos, uma perspectiva daquilo que nos falta, além de potencializar a importância da formação de líderes sociais oferecida pelo projeto. Passamos a ter novas percepções para atuar em nossas comunidades.”
Laboratório
Depois de conhecer as organizações populares do Pina, o grupo visitou a Porto Social, organização que funciona como uma incubadora de projetos sociais. “Sabe aquela história de ficar o tempo todo na escola, só na teoria? Por exemplo, química […] a gente não tem um laboratório para saber como as coisas realmente funcionam. Ficamos só supondo, sem a oportunidade do observar a prática. Na formação do projeto, a gente teve a teoria e uma parte de prática, com o PIC (Plano de Intervenção Comunitária), mas isso aqui [Trocando em Miúdos] é como o laboratório de química, com tudo que a gente precisa para experimentar e saber o que bate, não bate, fazer um comparativo e voltar cheios de ideias e ânimo para continuar o trabalho da gente”, relata Lenilson Bento, agente social de Mata Escura.
Além de promover o conhecimento em experiências exitosas, o Trocando em Miúdos em Recife possibilitou uma imersão na cultura local, colaborando para a expansão do olhar em torno de outras culturas. Fruto de uma parceria entre o Instituto Camargo Corrêa, Consórcio Mobilidade Bahia, CCR Metrô Bahia, Instituto CCR, a UNEB e a Avante, o projeto “Comunidades Ativas” tem eixos formativos que vão desde o conhecimento da realidade local, até o planejamento e sustentabilidade das organizações sociais, de modo a contribuir para o fortalecimento da atuação dos agentes sociais desses três bairros e para uma ação comunitária qualificada.