De 19 a 26 de maio, comemora-se em todo o Brasil a Semana do Brincar, com diversas iniciativas que lembram a importância do Direito ao Brincar. A Avante – Educação e Mobilização Social compartilha entrevista com Giovana de Souza, gestora da Rede Aliança pela Infância, organização membro da Rede Nacional Primeira Infância. O texto foi originalmente publicado no jornal Folha de São Paulo.
Giovana defende que as brincadeiras não precisam ser direcionadas por recreadores ou pais ansiosos. “Se não for assim, a criança irá contribuir com o quê? O mais grave é que se ela não exercita a criatividade na primeira infância, quando isso vai acontecer? É por meio do brincar que a gente descobre o mundo e se conecta com a essência do humano”.
A Semana do Brincar ocorre pelo quarto ano no Brasil e antecede o Dia Mundial do Brincar – 28 de maio, comemorado desde 1999.
“Brincar é um desafio político”
Folha de São Paulo – O evento terá uma roda de conversa para discutir os “desafios do brincar”. Qual é a maior dificuldade hoje?
Giovana Souza – O grande desafio é o respeito por essa ação. Não temos espaços adequados para que as crianças possam brincar. E nós, adultos, temos uma ansiedade muito grande, o que faz com que nossos filhos tenham contato com o brincar de uma forma dirigida, muitas vezes por meio de recreadores. Há pouco respeito pela atividade quando ela tem um fim em si mesma. As crianças acabam tendo agendas cheias, mas há pouco espaço para estarem sozinhas e se divertirem.
A situação se repete nas escolas?
Sim, mas é uma conquista no âmbito da educação infantil que nossos professores tenham uma formação que contemple o brincar. Isso é importante. Por outro lado, quase não há tempo para se divertir livremente. Temos apenas o recreio, que não é muito longo, gira em torno de 15 minutos. É preciso tempo para trabalhar com a imaginação, para inventar brincadeiras e brinquedos não-estruturados.
Qual deve ser o papel dos adultos nas brincadeiras?
A criança demanda uma atenção e os pais devem atuar como mediadores. Ter atenção com o espaço onde os filhos vão brincar, ver se o local é seguro, se não tem cacos de vidro, essas coisas. Depois de preparar o ambiente, os pais devem respeitar o tempo para que a brincadeira aconteça, sem dirigir aquela atividade. É um desafio para nós, talvez porque a gente tenha esquecido como é… Nossa vontade é entrar logo na situação e direcionar, esquecendo nosso papel de observador. Se não for assim, a criança irá contribuir com o quê? O mais grave é que se ela não exercita a criatividade na primeira infância, quando é que isso vai acontecer? É por meio do brincar que a gente descobre o mundo e se conecta com a essência do humano.
Como as crianças brincam nas diferentes regiões de São Paulo?
As mudanças nas brincadeiras estão muito relacionadas às questões de segurança. As crianças da periferia ainda brincam nas ruas com outros meninos e meninas e isso é muito importante, porque exercitam uma série de vivências, como a capacidade do perdão. Uma criança que more no centro, por exemplo, e não encontre espaços adequados para brincar, tende a ficar em casa ou ir a casa de um amigo. A característica dessa brincadeira muda. Não dá para brincar de pega-pega em casa, ou pelo menos é mais difícil.
Que estratégia é possível adotar para que as grandes cidades tenham bons lugares para brincar?
Esse é um desafio político. O ator “criança” não é considerado no planejamento das cidades. As calçadas são esburacadas, são poucos os espaços de convivência coletiva seguros para que crianças e bebês possam brincar. Temos algumas iniciativas de ocupação de praças, mas essa não é a regra e aí ficamos reféns da insegurança.
Do que você brincava quando era pequena?
De passa anel, casinha, balança caixão…
Informações Folha S.Paulo