Do latim diarius, explica o dicionário Houaiss, a palavra diário é relativa ao dia, ao que se faz ou acontece todos os dias, e marca o ritmo do que é cotidiano. Na Escola Municipal Judite Alencar Marinho, em Feira de Santana (BA), o significado de diário ultrapassou, e muito, esta definição. O diário de bordo assinado por Bernadete Melo, funcionária da sala de leitura da escola, registra os momentos de contação de histórias que levam as crianças para os mais diversos lugares e experiências, num mundo imaginário longe, muito longe, do que se passa ali todos os dias na vida real.
O trabalho com a leitura na instituição começou em 2012, incentivado pelas formações continuadas e pelo acesso a materiais do projeto Paralapracá. Feira de Santana integrou o primeiro ciclo (2010-2012) do projeto Paralapracá, junto com as cidades de Campina Grande (PB), Caucaia (CE), Jaboatão dos Guararapes (PE) e Teresina (PI). Em seu segundo ciclo (2013-2015), o projeto Paralapracá é implementado nos municípios de Camaçari (BA), Maceió (AL), Maracanaú (CE), Natal (RN) e Olinda (PE).
Como relata Sandra Gonçalves de Matos, então coordenadora pedagógica da escola e hoje professora da mesma instituição, as crianças não demonstravam interesse pelos livros antes do desenvolvimento do projeto. “Elas diziam que não queriam ler e que não gostavam de ler”, relembra. “Hoje, as turmas representam as histórias que ouvem na sala de leitura para toda a escola. As crianças entendem o espaço de leitura como um ambiente de história e gostam muito de estar ali”, diz Sandra.
Além de apresentar a literatura para as crianças, o projeto tem como finalidade auxiliar o processo de alfabetização. “Contar história não necessariamente significa aproximar as crianças da escrita, mas ler histórias, sim”, sinaliza Maria Thereza Marcílio, gestora institucional da Avante – Educação e Mobilização Social, parceira técnica do Instituto C&A na implementação do projeto Paralapracá.
Ver o livro, as ilustrações, o movimento das páginas e a antecipação do que vai acontecer são conhecimentos do mundo da escrita que vão se integrando ao universo das crianças, esclarece a gestora. Por tudo isso, a leitura de livros desponta como uma das formas privilegiadas de introduzir as crianças ao universo da escrita.
Histórias da Mala Paralapracá
Na Escola Judite Alencar Marinho, as crianças têm encontro marcado com o mundo da escrita literária todas as quartas-feiras, na sala de leitura. Para ouvir as histórias, as turmas se enfeitam com os mais variados apetrechos que a mediadora Bernadete Melo leva dentro da Mala do Paralapracá, junto com os livros.
“Durante algumas manhãs eu solto a minha imaginação. Está sendo assim: a cada história lida/contada, vou crescendo um pouquinho, e as manhãs das quartas são deliciosamente ‘apetrechadas’”, registra Bernadete no diário de bordo.
“Contar histórias faz parte do patrimônio cultural universal. Pelas histórias, compartilham-se valores, afetos, crenças, temores, desejos que constituem o patrimônio de um povo”, assinala Maria Thereza. “As histórias eram narrativas orais e populares que passavam de uma a outra geração e que naturalmente foram incorporadas ao mundo da escrita”, lembra.
Os registros iniciados com o diário de bordo da Escola Judite Alencar Marinho auxiliam tanto as atividades na sala de leitura, como orientam as contações de histórias nas salas de aula. “O registro torna a prática da leitura de histórias mais consciente, porque evidencia o que dá certo, quais são as histórias de que as crianças mais gostam e de quais elas não gostam muito”, explica Sandra.
O próximo passo do projeto, que ainda aguarda para ter seu registro no diário de bordo, é a visita da mala de livros e enfeites à casa das crianças da escola. “Os pais estão sendo sensibilizados para a importância da leitura e do material e, a partir do segundo semestre, a mala sairá da escola para a comunidade”, celebra Sandra.
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