No início de outubro (6 e 7) o projeto Arte e Infância, da Gerência Regional de Educação (GRE) Subúrbio II, culminou com a exposição de 140 telas produzidas por crianças matriculadas na Educação Infantil da Rede Municipal de Salvador. Repletas de cores, traços, tintas e muitas subjetividades, as peças foram elaboradas a partir de atividades realizadas ao longo de um semestre nas instituições de Educação Infantil. Esse projeto é uma das ações mapeadas, em 2014, pelo Programa de Desenvolvimento da Educação Infantil (PRODEI), da Secretaria Municipal de Salvador, em parceria técnica com a Avante – Educação e Mobilização Social, posteriormente ampliado para o Programa Nossa Rede.
“O Arte e Infância demonstra muito da proposta do Nossa Rede Educação Infantil, que emerge do diálogo entre as práticas existentes na Rede Municipal com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil”, explica Mônica Samia, consultora associada da Avante e uma das coordenadoras do Nossa Rede na instituição.
O objetivo do projeto Arte e Infância é fomentar a arte entre as crianças de 0 a 5 anos, além de propiciar uma formação para os professores. Esse ano, em sua quinta edição, a exposição do projeto foi realizada na Escolab, no bairro de Alto de Coutos, em Salvador.
Participação da comunidade
Com o tema Arte e Samba na Cultura da Infância, a mostra surpreendeu as organizadoras pela presença de muitos familiares. “Tínhamos pouca participação dos pais, hoje eles fazem questão de vir e apreciar a obra junto com seus filhos. Essa mudança é fruto do fomento da arte na escola, do trabalho que é produzido. É um trabalho intenso dos professores dentro das unidades escolares, e que tem essa culminância. Temos aqui a participação da família, da comunidade, da escola, com muito êxito nas atividades”, diz a coordenadora pedagógica regional da GRE Subúrbio II, Rafaela Oliveira.
Entre os familiares, estava Edileuza de Oliveira, que deixou de ir trabalhar para prestigiar o trabalho da filha. Nascida prematura, com 36 semanas, Ester de Oliveira só falava papai e mamãe, até os três anos. Um exemplo de como a arte pode contribuir para o aprendizagem infantil. “Depois que ela começou a ir à escola, ela se desenvolveu. Ela canta, fala tudo, pede comida, água, e em relação às oficinas de arte, ela risca tudo, aprendeu a pegar nos lápis de cor, aprendeu a fazer traços que antes não fazia. Então, ela vem se desenvolvendo muito”, ressalta a mãe.
Outro tipo de arte que abrilhantou o projeto foi a dança, representada pelo samba de roda. “O projeto se mantém ao longo desses anos muito bem, e acredito que vá crescer mais. Esse ano, lá na escola, como a gente tem oficina de samba de roda, com o grupo Acorda Samba de Roda, toda quinta-feira, a gente saiu para além do que é o trabalho do professor. A gente recebeu o grupo, que mediou os meninos nesse universo do samba, levou os instrumentos para tocarem, para aprenderem como é que se constitui o samba, e isso foi muito bacana”, explicou Cássia Santos, diretora da Escola Municipal Fernando Presídio, que levou uma turma de pequenos bailarinos para se apresentarem na abertura da exposição.
Por trás das telas
Quem vê a exposição montada, não imagina o longo processo desenvolvido até chegar ao resultado final. Primeiro, lá no início do ano letivo, a GRE fez uma sensibilização junto aos professores que não são especialistas em arte, para participarem do projeto. Depois disso, e de definirem o tema, eles passaram pela formação em arte, com oficinas para saber como é mediar o trabalho junto às crianças; que práticas são mais adequadas para que a criança produza arte sem a intervenção direta do professor, promovendo um processo de criação, autoral.. Foi também o momento para os professores adquirirem conhecimento técnico para o trabalho proposto – pintura em tela, mosaico, colagem.
A partir daí, eles ficaram quase um bimestre promovendo este tipo de produção com as turmas de Educação Infantil. Quando terminaram, cada instituição escolheu 10 telas para serem expostas, representando as creches e pré-escolas Primeiro Passo de Periperi e de Tubarão; as escolas municipais Alto de Coutos, Álvaro Vasconcelos da Rocha, de Paripe, Fernando Presídio, Francisca de Sande, Marcílio Dias, Presidente Médici, Rui Barbosa e Visconde de Cairu; além dos centros municipais de educação infantil Álvaro Bahia, Cid Passos e Hélio Vianna.
Educação Infantil
O programa Nossa Rede Educação Infantil é responsável pela criação de material pedagógico para professores, crianças, instituições de Educação Infantil e familiares; elaboração de um sistema de monitoramento para acompanhamento e avaliação da qualidade do atendimento prestado nas instituições; formação continuada para profissionais e elaboração das Diretrizes Curriculares da Educação Infantil da Rede Municipal de Salvador.
Entre os materiais elaborados pelo Programa, está o Referencial Curricular Municipal para Educação Infantil de Salvador. O documento, considerando que a criança entra em contato com as artes visuais desde cedo a partir da manipulação de diferentes objetos, cores e linguagens e que dessas interações emergem momentos de aprendizagem, onde ela elabora hipóteses e transforma conceitos, tornando-se autor de novas imagens e objetos, ressalta que cabe ás instituições de Educação Infantil “promoverem espaços nos quais a crianças possa ampliar seu repertório em Artes Visuais, através de propostas criativas, que tenham significado cultural e artístico, exercitando a reflexão, a dimensão estética do conhecimento e o sensível; além de explorar novos meios expressivos, por meio do contato com artefatos culturais, artísticos e tecnológicos, a fim de ampliar o campo criador” (p.125).