O uso do termo “normalidade” passou a ser empregado de forma mais recorrente durante a pandemia causada pelo COVID-19 como forma de se referir à vida rotineira que precede o início desta doença no mundo e, consequentemente, no Brasil. No artigo “A Normalidade da Desigualdade Social e da Exclusão Educacional no Brasil” (Universidade Estadual de Maringá, Centro de Ciências Sociais Aplicadas) , as pesquisadoras Iracema Santos dos Nascimento¹ e Patrícia Cerqueira dos Santos² lançam luz sobre o já desigual sistema educacional brasileiro e os prejuízos de uma Educação remota que seriam ainda mais caros aos estudantes em função da imensa diferença socioeconômicas no país.
“Essa dita normalidade é a histórica e brutal desigualdade, perversa e cruel, cômoda e devidamente naturalizada pelas elites que dela se beneficiam, pois dela dependem para manter seus privilégios”, afirmam as autoras no artigo. Elas citam números que revelam a alta concentração de renda no país – em 2018, 40% concentrada nas mãos de 10% da população (IBGE) – cruzando com a dificuldade de conectividade dos estudantes brasileiros, o que só reforça a incapacidade da maioria participar do ensino remoto com base em tecnologias digitais.
O artigo tece ainda duras críticas às políticas públicas que só reforçam o que chamam de “normalidade da exclusão”. Iracema Nascimento e Patrícia Santos questionam de maneira firme a decisão do Governo Federal, através do Ministério da Educação, de não cancelar em 2020 o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), diante da impossibilidade de milhões de jovens de se prepararem para as provas em razão da suspensão das aulas e da incapacidade de acompanhá-las.
“Quando governos municipais e estaduais lançam sobre suas redes de escolas os pacotes de ensino remoto que, como já vimos, deixam milhões de fora, seja por falta de acesso às Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), seja por falta do básico para sobreviver, estão operando políticas públicas de exclusão. E quando educadoras(es), muitas vezes com boas intenções, apressam-se em justificar essas ações (“a Educação não pode parar”; “depois socorremos os excluídos”), estão admitindo a “normalidade da exclusão”, afirmam no artigo.
¹Doutora pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo e professora na mesma instituição, junto ao Departamento de Administração Escolar e Economia da Educação. Ministra as disciplinas de Política e Organização da Educação Básica, Coordenação do Trabalho na Escola e Relações de Gênero e Educação.
E-mail: iranasci@usp.br
²Mestre em História Social pela PUC-SP. Professora de História da Rede Municipal da Cidade de São Paulo. Membro do Conselho Consultivo da ANPUH-SP (2018-2020), do Grupo de Trabalho Ensino de História e Educação da ANPUH-SP e do Coletivo Territorialidades.
E-mail: patriciacerquer@gmail.com
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