Salvador (BA) – Jaboatão do Guararapes (PE) é um dos dois municípios que continuou no Paralapracá após a finalização do ciclo I do projeto. Nesta continuidade, a participação de instituições de Educação Infantil da rede municipal na formação continuada foi ampliada e as coordenadoras que já haviam participado da formação no ciclo I se dedicaram ao estudo para a qualificação de registros pedagógicos tanto no presencial, quanto à distância. Desafio que provocou desejos e revelou desafios.
Para Cida Freire, assessora pedagógica de Jaboatão dos Guararapes, a chegada do projeto no município provocou mudanças significativas. “Uma das principais mudanças refere-se ao modelo e concepções de formação continuada até então vigente”. Antes do Paralapracá a Rede Municipal adotava o formato de cursos, oficinas e seminários para professores e professoras. Com a chegada do projeto, pactuada com a própria Rede Municipal de Ensino, provocou uma mudança nos três principais aspectos da política da rede: a formação continuada destinada para as coordenadoras pedagógicas e não mais para professoras; o princípio da homologia dos processos e não mais a lógica da exposição oral de uma temática; e a estratégia formativa da tematização da prática e não mais a distribuição de modelos prontos, “receitas” ou fórmulas para ensinar e aprender.
Cida conta que os encontros aconteciam em salas com aproximadamente 60 professores e a equipe técnica da Secretaria era a responsável pela formação destes profissionais. Todas as escolas recebiam no início do ano o calendário com as datas da formação para as professoras e, no dia reservado para o encontro formativo, elas se dirigiam para o local da formação. “Era realmente um grande evento, demandando mensalmente uma logística bem articulada de profissionais e recursos materiais. Não raras eram as reclamações e os problemas advindos de uma atividade de grande porte”, lembra.
O projeto Paralapracá chegou ao município em 2010, o ciclo I teve duração de dois anos e o município participou da continuidade em 2013.
Paralapracá provoca mais uma virada na rede municipal e introduz formação nucleada
Cida revela que a entrada do projeto no município construiu aprendizagens e provocou o desejo de mudar a lógica vigente (da formação continuada) para assumir a metodologia do projeto Paralapracá como política pública. E foi assim que em 2013, todas as coordenadoras pedagógicas, das 90 instituições de Educação Infantil do município, assumiram como sua principal atribuição a formação continuada de suas equipes de professores e professoras.
Neste período todas as professoras e professores se reconheceram e se constituíram verdadeiramente como grupo de profissionais da educação infantil. E a equipe técnica da secretaria de educação pôde potencializar suas estratégias formativas e de acompanhamento às instituições, e assumir a formação continuada para as coordenadoras pedagógicas, com assessoria pedagógica e acompanhamento de Cida Freire.
A formação foi realizada nas escolas de forma nucleada. Ou seja, “as instituições de um mesmo bairro ou de bairros próximos realizaram a formação numa escola de melhor localização”, explica Cida. Cada núcleo de formação contou com uma das 21 coordenadoras que participaram da formação entre os anos de 2010/2012.
A estratégia foi criada pelo município para driblar três desafios existentes na rede: o número de instituições sem coordenadoras pedagógicas; garantir que todas as instituições pudessem receber o acompanhamento da equipe técnica durante a formação continuada; e fortalecer os profissionais da educação infantil, que tiveram naquele espaço formativo a oportunidade de troca e se inspiração com as experiências dos colegas cuja realidade era semelhante, pois tratava-se de uma mesma comunidade ou comunidades adjacentes.
Em pouco tempo a formação continuada na escola já apresentava aprovação das profissionais. “As supervisoras estão mais unidas, as habilidades são trocadas, há um casamento, e as professoras não querem mais voltar ao outro modelo (referindo-se à prática de formação anterior ao projeto)”, conta a técnica da Secretaria Municipal de Educação, Gisele Silva, que acompanhou a formação nucleada em um dos pólos.
“A experiência da nucleação constitui uma forma temporária, criativa e responsável para enfrentar a realidade do município de Jaboatão dos Guararapes em relação às fragilidades da política de formação continuada para a educação infantil. Esta configuração, sem dúvida, poderá servir de inspiração para outros municípios que ainda não conseguem superar a precarização de suas redes de ensino, mas que buscam parcerias como a do projeto Paralapracá justamente para se fortalecerem na construção de uma política municipal”, avalia Cida.
Formação à distância mobiliza desejos e expõe desafios
No segundo semestre de 2013 as coordenadoras pedagógicas de Jaboatão dos Guararapes que participaram da continuidade do projeto enfrentaram mais um desafio – a formação à distância, via plataforma moodle. O objetivo da formação era fortalecer a construção coletiva do conhecimento, promover aproximação entre coordenadoras de dois municípios (Teresina – PI também participou da continuidade com foco na qualificação de registros pedagógicos) e oferecer um espaço de aprofundamento e reflexão no tema da formação.
O desafio estava lançado e o principal obstáculo a ser enfrentado já veio com a proposta de ser superado – a exclusão digital das docentes. “Eu gostei, não tenho muita intimidade, minha monografia um menino digitou para mim, não sei mexer muito, mas pelo que foi explicado, acho que vai ser fácil e tá mais do que na hora de aprender”, disse Suely Maria, coordenadora pedagógica do município. “Eu não sou muito dessa parte não. Tenho um face, criaram um face para mim, minha filha. Essa parte tá cutucando, e eu vou ter que arrumar um tempo, vou encarar como algo que vai me engrandecer muito mais”, reforça Eraciane Tommasi, também coordenadora do município.
Apesar da formação ter sido iniciada no final do ano letivo, “fato que retirou possibilidades de fazermos a navegação mais calmamente, afinal de contas tudo acontece nestes meses”, conta Cida, ainda assim houve interesse e participação das coordenadoras pedagógicas nas atividades propostas pelo ambiente virtual.
Uma proposta de inclusão
O município de Jaboatão dos Guararapes (PE) disponibilizou, no ano de 2010, um computador para cada professor e um moldem de acesso à internet para cada instituição. Entretanto não há nenhuma política destinada à formação dos profissionais para a utilização destes equipamentos.
“O Paralapracá veio provocar essa vontade, então elas sempre vão querer mais”, sentencia a assessora pedagógica de Jaboatão. “ (…) Com o Paralapracá tivemos que construir do zero um caminhar diferente. A ferramenta é válida, universal, contemporânea. Não é fácil, acho que a minha geração não tem tanta facilidade. Mas é uma forma de nos capacitar. Acho que é legal o Paralapracá popularizar essa linguagem. O percurso que o Paralapracá nos apresentou é impressionante: hoje estamos na mídia. Não estamos há tantos anos luzes, o município nos forneceu um tablet, mas ainda é um entrave”, reforça a coordenadora Gilzemer Brito que reconhece a importância do uso da ferramenta. No último encontro presencial do ano as coordenadoras solicitaram que o Instituto C&A buscasse estratégia para que elas pudessem continuar no ambiente.
O Paralapracá é um projeto do Programa Educação Infantil do Instituto C&A em parceria técnica com a Avante – Educação e Mobilização Social.