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Vozes na Pandemia – Maternidade, noites em claro e mente alerta à retomada da vida pós-pandemia

Por: Samara Reis, aluna da UFBA e mãe de uma criança de 7 anos. 

Fazer uma graduação faz parte, sobretudo, de um plano de vida. O cenário de incertezas sobre como se reestruturará a sociedade após a pandemia do COVID-19, traz inseguranças não só sobre a conclusão do curso, mas sobre este plano.  Retornei à universidade em 2018, com a finalidade de, além de construir uma carreira profissional, com esta nova carreira, construir uma nova história. Em busca de uma formação crítica diante da sociedade e sempre com o objetivo de construir saberes com foco na transformação social.

A pandemia, por hora, interrompe esse projeto que não pretende, em si, ser apenas o aprendizado de um ofício para convertê-lo em dinheiro. Mas que tem, ao fundo, um projeto de vida que anseia por um modelo novo de sociedade.

Hoje, ainda durante a pandemia, o mundo já não é o mesmo, que dirá quando o isolamento social acabar. Eu estou isolada há 58 dias, dentro em pouco completo dois meses em isolamento, e tudo já mudou. A sociedade sobre a qual me debruçarei será outra, e nós, que compomos as universidades estaremos no papel de criar o caminho seguinte.

O percurso seguinte, que tenho trilhado, vem sendo atravessado pela divisão da rotina de estudos com minha filha de 7 anos. Temos nos empenhado em encontrar o equilíbrio entre as minhas e as atividades dela. Mas não tem sido tarefa fácil dividir equipamentos tecnológicos, já que só dispomos de um notebook. Contudo, o equipamento não é a única barreira. Este texto escrevo entre muitas pausas, há pelo menos três dias, enquanto a auxilio nas tarefas da escola, que fazemos em dias alternados, dentro dos meus limites pedagógicos, ou enquanto me envolvo em algum cenário de suas brincadeiras, ou lido com os reflexos que os quase 60 dias de isolamento trazem para uma criança da idade dela. A distância dos amigos, do restante da família, da sua rotina de todos os dias, que terminam em noites que se alongam até quando já é o outro dia, e ela finalmente adormece. Uma criança de 7 anos com insônia.
A distância do espaço físico da Universidade, para mim, e da Escola, para ela, se convertem na falta de espaços próprios, individuais, onde se estabelecem as nossas outras relações. Nossas comunidades, coletividades, se veem restritas ao ambiente domiciliar que dividimos com meus pais, idosos, irmã, avós e tia dela. Este se tornou o nosso único espaço social.

Os momentos de reflexão, contradição etc. que são próprios da formação universitária, no momento, estão em suspensão. Com a boa exceção da atividade de Pesquisa, os webinários/reuniões do grupo, que me mantêm focada na minha formação, sem permitir que a maneira como estamos seguindo me deixe sem perspectivas, me possibilitando estar em constante questionamento e elaboração sobre a conjuntura atual e as transformações sobre as quais me referi.

Apesar destas barreiras que relatei, as Universidades têm exercido papel fundamental durante a pandemia. Seja no desenvolvimento de novas tecnologias, ou seja apresentando resultados de suas produções nas mais diversas áreas do conhecimento. Seja com os estudos em busca da vacina, ou nas análises da água de comunidades afetadas, no mapeamento genético do vírus, bem como análise dos aspectos locais e subjetivos dos efeitos da pandemia, englobando múltiplas áreas do conhecimento.

A pandemia tornou possível acessar estes conhecimentos através das inúmeras lives, como na mais recente, “Marcha pela Ciência” organizada pelo SBPC e o primeiro “Congresso Virtual da Ufba”, que se aproxima. Aliás, que orgulho de ser UFBA! Já somos outras pessoas, a realidade já é outra, quando a pandemia acabar, espero que não tentemos retomar a “normalidade”, pois durante este distanciamento social, é um novo normal que precisa ser construído.

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