Adolescentes prestes a dar à luz, mas com a confiança e a autoestima necessárias para acolher bem os filhos que nascerão em breve. Este foi o resultado da primeira etapa do projeto Mães de Primeira Viagem, encerrada no dia 23 de março.
Como última atividade do grupo de atendimento psicossocial de adolescentes grávidas, o projeto, realizado pela Avante – Comunicação e Mobilização Social, promoveu uma visita ao Centro de Parto Normal Marieta de Souza Pereira. A maternidade faz parte das Obras Sociais Mansão do Caminho, localizada no bairro de Pau da Lima, em Salvador. Ao final da visita, as futuras mães demonstraram, algumas com lágrimas nos olhos, sua gratidão ao projeto. Elas ressaltaram não imaginar que poderiam ser tão bem tratadas durante a gravidez. “A palavra que me vem à cabeça é amor”, concluiu Gleiciane Rodrigues, 17 anos, ao final da atividade.
Elas também não imaginavam que esse tratamento fosse estendido à hora do parto. E foi esta possibilidade que lhes foi apresentada na maternidade, quando aprenderam sobre o parto humanizado.
A coordenadora do centro, Suzana Montenegro, demonstrou que este tipo de parto, o qual as adolescentes podem requerer gratuitamente no local, tem como conceito básico a construção das condições ideais para que a mães estejam o mais confortável possível na hora de trazer seus filhos ao mundo. No parto humanizado entende-se que este momento é delas e enfermeiras, médicos e familiares interferem apenas à medida que surjam necessidades.
As adolescentes ficaram impressionadas com os cuidados que são dedicados às mães e também aos seus companheiros, reconhecidos como peça importante no momento do parto. Segundo Suzana Montenegro, o companheiro auxilia oferecendo apoio moral, mas também físico à gestante, ajudando-a a encontrar a posição ideal para parir. A liberdade de escolha da posição foi outro ponto que tocou as mães de primeira viagem. “Amei ter a opção da banheira”, disse, Priscila Santana, 14, depois de ouvir a lista de possibilidades que inclui posição de cócoras, em pé, de quatro, entre outras.
Entre os diferenciais que o parto humanizado oferece para à família, chamou a atenção das adolescentes a possibilidade de qualquer um dos familiares ter o direito de assistir o parto e cortar o cordão umbilical. Outro aspecto que elas destacaram foi o fato de o bebê ser levado direto para os braços da mãe e só tomarem banho com sabão cerca de seis horas depois de nascido. “Existe uma gordura na pele do bebê que além de protege-la, sendo absorvida, também diminui o choque entre o ambiente interno da barriga e o ambiente externo com o qual toma contato pela primeira vez”, explicou Suzana Montenegro.
Um momento especial
“É um momento único para a criança que está nascendo e ela tem de ser recebida com amor”, disse a coordenadora do centro para explicar que tudo naquele ambiente é pensado para tornar a mãe capaz de suportar com o mínimo de medo, ansiedade e angustia à inevitável dor do parto.
Ela explicou para as adolescentes que a dor pode ser diminuída pela presença de um hormônio produzido naturalmente pelo organismo – a oxitocina, conhecido como o hormônio do amor. “Para evitar a diminuição drástica do hormônio por conta do stress, nós usamos uma diversidade de métodos não farmacológicos de relaxamento e alívio da dor”, explica.
Entre eles está a adoção de um ambiente que traga calma à gestante. Por isso, o cuidado para que a maternidade não tenha a aparência de um hospital e que seu entorno seja repleto de plantas, árvores e até animais, por onde as mães são levadas a caminhar por acompanhantes chamadas doulas.
Massagens, banho de água quente, escalda pé, fitoterapia, ervas e chás, aroma terapia, musicoterapia são alguns dos outros métodos. Exercício também são uma parte importante do processo, seja com a bola bobat (bola de Pilates), que ajuda na descida e encaixe da criança, ou por meio de um aparelho chamado de cavalinho, usado também para massagens.
Requisitos
Para poder dar à luz no centro, no entanto, é necessário responder a alguns pré-requisitos. Ter uma gestão única, ou seja, estar gestando apenas uma criança; o bebê apresentar posição cefálica (estar com a cabeça voltada para baixo no útero); ter pelo menos quatro consultas pré-natais, e o bebê estar entre as 37° e 41° semanas.
A coordenadora informou que as crianças nascidas no centro já saem com certidão de nascimento, vacinadas, com direito à consulta da primeira semana de vida e as mães tomam vitamina A, que é passada aos filhos através do leite materno. Ao final, as adolescentes foram convidadas a fazer os exames de perfil, para saber se elas podem ter seus filhos no local.
O projeto Mães de Primeira Viagem é uma realização da Avante – Educação Mobilização Social, Instituto Camargo Corrêa e Consórcio Mobilidade Bahia, do qual faz parte a Construtora Camargo Corrêa. Com a finalização do primeiro grupo operativo no bairro de Pirajá, um novo grupo foi iniciado em 25 de março com adolescentes moradores do Parque São Bartolomeu, que se reunirão no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) do Lobato, em Salvador.