Finalizando a quarta formação do projeto “Comunidades Ativas”, um workshop reuniu líderes comunitários com expressiva atuação em diferentes territórios de Salvador, para falar sobre suas trajetórias e, principalmente, sobre os desafios enfrentados no dia a dia da militância. Com o tema “Lideranças transformadoras: compartilhando experiências e aprendizados”, o evento foi realizado na Escola Estadual Márcia Méccia, em Mata Escura, no dia 2 de setembro.
Uma oportunidade de confrontar os aprendizados teóricos com a prática, o encontro foi uma atividade complementar ao módulo “Formação política e técnica das lideranças e representantes das organizações sociais”, possibilitando que os cursistas construam saberes necessários à formação política e técnica, problematizando, sobretudo, questões de representatividade, autonomia e legitimidade, elementos cruciais para uma atuação qualificada na comunidade.
Entre os assuntos tratados, a importância de o líder cuidar do processo de formação política dos moradores, para que possam valorizar a própria história e identidade, destacada pelo pesquisador e professor da UCSAL, José Eduardo Ferreira, que junto à esposa Vilma Santos, compartilhou a experiência do “Acervo da Laje”, pesquisa realizada no Subúrbio Ferroviário, a fim de reconstruir o mosaico simbólico da periferia de Salvador, reformulando os estereótipos em torno da vida comunitária.
Entre eles, a ideia de que as “comunidades” são violentas, e por isso, são territórios a serem evitados. “É necessário que as pessoas percebam o que há de mais bonito no seu território e valorizem o lugar. Descobrir os talentos e colocá-los no mesmo caldeirão. A comunidade é educadora, não é só a escola que educa”, enfatiza Eduardo, que fala ainda que é imprescindível um líder saber lidar com as diferenças, pois “liderança não é título, é reconhecimento”.
É preciso tirar o estereótipo do lugar
Outro convidado que falou sobre a importância da formação comunitária foi Paulo de Almeida Filho, integrante do Conselho Comunitário do Bairro da Paz. Para ele, as lideranças devem servir aos interesses coletivos, acima de tudo, inclusive da intolerância religiosa. E as pessoas precisam questionar o lugar em que estão. “Reduzir o local, a comunidade, ao que a mídia sensacionalista informa é um erro. É preciso tirar o estereótipo do lugar”, ressaltando que a informação funciona como um instrumento de resistência.
Quem também mostrou o quanto é necessária a formação política no movimento social foi a coordenadora estadual do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto da Bahia, Rita Ferreira. Ressaltando a importância do trabalho de conscientização dos moradores quanto aos seus direitos, ela enfatizou o papel da mulher no movimento dos Sem Teto, uma força importante na luta pela moradia. “Não aceito nenhum tipo de opressão, venha de onde vier”, disse a única liderança feminina do MTSB, reafirmando a força da mulher nos movimentos sociais.
Atenta às dicas compartilhadas por cada liderança, que expôs as concepções e aprendizados sobre o trabalho do líder à frente do processo de transformação das suas comunidades, a cursista Ana Maria Gomes disse que o tema proposto na formação “possibilitou ter uma visão mais ampla e segura de como liderar, enfrentando os obstáculos”, referindo-se ao bairro de Mata Escura, onde mora e procura colaborar como cidadã.
Sobre o projeto
O “Comunidades Ativas” foi concebido a partir do Diagnóstico Socioterritorial feito pela Avante – Educação e Mobilização Social nos bairros de Calabetão, Jardim Santo Inácio e Mata Escura, em 2016, em parceria com o Instituto Camargo Corrêa. Com formações que vão desde o conhecimento da realidade local, até o planejamento e sustentabilidade das organizações sociais, o projeto é uma oportunidade de fortalecimento da atuação dos agentes sociais desses três bairros, na perspectiva de contribuir para uma ação comunitária qualificada.
Realizado pelo Instituto Camargo Corrêa e o Consórcio Mobilidade Bahia, é executado pela Avante, em parceria com a UNEB, o CCR Metrô Bahia e Instituto CCR.