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Kiran Sethi, o vírus do “eu posso” e o projeto Posso Falar?

A visita à Riverside Schooll em 2013 (EduRetreat) e 2014 (Trocando em Miúdos Internacional – Índia) empoderou ainda mais a equipe Avante – Educação e Mobilização Social na aposta no poder dos atores sociais, quando estimulados a acreditam em si mesmos (“eu posso”). Em especial crianças e adolescentes. “A metodologia da escola indiana [Desing for Change] apresenta fortes pontos de contato com a forma com concebemos nossos projetos e trabalhamos a mobilização dos atores sociais nas várias atividades que lhes compõem”, conta Ana Luiza Buratto, consultora associada da Avante e coordenadora do projeto Posso Falar? que inovou ao fomentar espaços de participação das crianças para fortalecimento do Sistema de Garantia de Direitos (SGD) no que diz respeito ao Trabalho Infantil (TI).

“À medida que Kiran apresentava o programa e algumas experiências das crianças da Riverside e de outras escolas – pois a essa altura o Design for Change já tinha sido levado a outras instituições da Índia [e do mundo] -, fui convencida de que a idéia era brilhante, simples e muito convocante”, diz a coordenadora do projeto Posso Falar?. A escuta de crianças em situação de Trabalho Infantil foi que levada para a capacitação de agentes públicos e conselheiros que atuam no SGD, oferecendo uma nova perspectiva no combate ao problema.  “Ao por em prática a escuta das crianças, tivemos que refletir sobre o fato delas dizerem que preferem trabalhar do que brincar. O que nos levou a reconhecer que não temos lhes dado opções. Não temos ações municipais suficientes voltadas para elas. E entender isso a partir de suas vozes foi triste, mas também foi um despertar e um chamado à trabalharmos mais”, disse a secretária de Educação do município de Irará, Saionara Martins, durante o compartilhamento dos municípios no Seminário Estadual do Posso Falar?.

“A grande novidade do projeto foi testemunhar a forma como as crianças sentem e pensam sobre o trabalho infantil”, explica Ana Luiza, que resgata, em sua fala, a maior autoridade da mobilização social no ocidente – Bernardo Toro – para explicar o fazer da instituição nessa área. “Toro afirma que a gente mobiliza as pessoas, primeiro, pelo imaginário. E a dica é começar pelo sentir, porque isso significa conectar-se com o problema, com a realidade, para daí buscar alternativas de solução. Se a pessoa não estiver devidamente conectada com a causa ou com o problema, dificilmente ela se dará conta de que é capaz de agir para transformar, dificilmente conseguirá assumir o desafio “sim, eu posso!”. E lá na Riverside School pudemos comprovar que eles trabalham com essa idéia e que dá certo inclusive com as crianças. Pra mim essa é a força. E, por isso, foi fácil fazer o elo entre o Design for Change e a forma como trabalhamos em nossos projetos”.

Posso Falar?

A coordenadora do Posso Falar? diz que, no projeto, executado pela Avante em parceria com o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA) e Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR), o imaginário convocante foi a voz das crianças ao expressarem o que desejam para si e para a sua vida.“Tem algo que convoque mais do que isso?”.

E foi essa força convocatória que levou a equipe a optar por começar as ações de enfrentamento ao TI nos dez municípios assistidos pelo projeto a partir das Oficinas Lúdicas e só então partir para as capacitações. “Nós queríamos que, em primeiro lugar, eles escutassem e se conectassem com a fala das crianças, que se sensibilizassem, de forma a sentirem a urgência de trabalhar com os outros aspectos que dizem respeito ao TI, como as questões conceituais e legais. A saírem de certa acomodação e se darem conta de que podem mudar a realidade. Nós seguimos uma linha bem semelhante àquela proposta pelo Design for Change, mas, após a viagem, mais confiantes de que tem tudo para dar que certo”.

Ana Luiza explica o passo a passo que “conectou” o Posso Falar? com a experiência indiana. “O sentir é estimulado pelas Oficinas Lúdicas; o imaginar vem com o sonhar com outra realidade possível para essas crianças; o agir emerge do plano de ação que formulam e que serve de base para implementação das ações que têm início ao longo do desenvolvimento do projeto; e o compartilhar se vivencia a partir das discussões e trabalhos coletivos na capacitação e que foi complementado com a realização do Seminário Estadual do Posso Falar? quando os municípios apresentaram os resultados do que desenvolveram em seus municípios às representações do estado e de outras instituições presentes ao evento.

“Mudamos praticamente tudo porque conseguimos ver o que não dava certo em nossas ações”, contou a coordenadora do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti) do município de Tucano, Fernanda Ferreira, durante o compartilhamento de experiências durante o Seminário do projeto. “Pra começar, o município criou uma Coordenação de Ações Estratégicas, o Fórum Municipal de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil, o Dia D contra o TI, além de intensificar a busca ativa de novos casos e as campanhas de combate tanto nas comunidades como nas escolas”.

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