Representantes da Fundação Xuxa Meneghel e do projeto Infâncias em Rede, da Avante – Educação e Mobilização Social, deram início a um intercâmbio de Participação Infantil que mobilizou duas crianças da Rede + Crianças (Fundação Xuxa) e o Grupo de Crianças do Calabar (Salvador – BA) no início do mês de dezembro. O encontro teve como objetivo traçar estratégias para uma ação conjunta entre as duas instituições e contou com uma reunião na sede da Avante e visitas à comunidade do Calabar quando as crianças da Rede + Crianças mobilizaram as crianças da comunidade.
No encontro da Avante estiveram presentes, Ana Paula Rodrigues, coordenadora do Programa de Redes e Incidência Política da Fundação Xuxa Meneghel; as crianças Ana Isabel, 11 anos e Kauã, 10 anos, ambos da Rede + Criança; a coordenadora do projeto Infâncias em Rede, Ana Oliva Marcilio; as consultoras técnicas do projeto, Ivanna Castro e Fernanda Pondé; e Sandra Andrade, assistente de projeto do projeto Posso Falar?, também da Avante. Na ocasião foram analisadas, junto com as crianças, as diferenças e semelhanças entre as duas instituições.
Ana Paula Rodrigues contou ao grupo que a Fundação Xuxa trabalha na perspectiva do acesso aos direitos, em especial de crianças e adolescentes, com foco em duas linhas de ação: Participação Infanto-juvenil e prevenção de violência. A representante da Fundação discorreu mais especificamente sobre o projeto Entrelaços que atua junto às mulheres encarceradas grávidas e vista incidir sobre a Política Nacional das Mulheres Encarceradas.
As duas crianças da Rede + Criança presentes à reunião falaram sobre o trabalho que desenvolvem e apresentaram alguns materiais criados para sensibilizar e mobilizar os públicos nos temas tratados pela Rede, e que são disponibilizados para dar apoio às ações de escuta de crianças. A Avante foi presenteada com o vídeo De Olho no Mundo, definido no encarte da peça como “um recurso animado para pensar e fazer pensar sobre participação infantil”.
A equipe do Infâncias em Rede, por sua vez, discorreu sobre a experiência com as crianças do Calabar que se iniciou com uma proposta de fomento ao brincar livre e ocupação do espaço público da comunidade e evoluiu para a formação de um grupo de crianças que hoje discutem sobre os seus direitos e elaboram produtos para mobilizar os moradores sobre os temas. O Infâncias em Rede estabeleceu uma relação de escuta e participação com as crianças que levou à revitalização de duas praças da comunidade, a elaboração de uma peça de teatro sobre a Lei Menino Bernardo, ou Lei da Palmada (Lei 13.010/2014) que também deu origem a um jingle que foi apresentado na reunião e despertou o interesse da equipe da Fundação Xuxa Meneghel.
Intercâmbio entre crianças
Após a reunião na sede da Avante, a equipe seguiu para a comunidade do Calabar onde Ana Isabel e Kauã, crianças da Rede + Criança promoveram junto ao Grupo de Crianças do Calabar algumas das atividades previstas na metodologia da Rede + Crianças para sensibilização do público infantil.
Para coroar este encontro os representantes da Fundação Xuxa convidaram às crianças do Calabar para comporem a Rede + Criança, que hoje já conta com mais de 30 grupos de crianças mobilizadoras espalhados pelo Brasil.
Felizes com o convite, as crianças foram convidadas a construir a Teia da Vida, conceito desenvolvido por Fritjof Capra, físico teórico e escritor que desenvolve trabalho na promoção da educação ecológica, no qual todos os seres vivos fazem parte de comunidades ecológicas interdependentes, ligadas em redes, nas quais os seres humanos são “apenas” um fio particular. “Com base nesta teoria a Fundação Xuxa criou a metodologia para a realização da oficina, Teia da Vida, que propõe que as crianças observem seu bairro e suas relações de modo a identificar problemas e possíveis soluções e, assim perceber a dinâmica da vida”, explica Ana Paula.
Ainda em grupo, as crianças discutiram o que é bom e o que às preocupam nos espaços de convivência do Bairro. As respostas foram as mais diversas, da preocupação com os pais que bebem demais, a acidentes nas escolas, reforma da quadra, o bar que coloca cadeiras em cima da amarelinha, e o medo de cair das árvores.
A partir destas respostas o grupo foi convidado a buscar soluções para os problemas que elas tinham detectado na comunidade do Calabar. L.S 9 anos, que integra o projeto Infâncias em Rede, constatou que se as pessoas se unirem, fica mais fácil encontrar soluções. Kauã, da Fundação Xuxa, acredita que sozinho a gente consegue derrubar algumas barreiras, mas quando estamos juntos, nos tornamos indestrutíveis. “Acho que criança tem direito de participar e opinar nas decisões no que diz respeito a elas, porque querendo ou não, as crianças também são humanas, iguais aos adultos”, diz L. B, 10 anos, integrante do grupo Infâncias em Rede.
Segundo Ivanna Castro, consultora técnica do Infâncias em Rede, este intercâmbio foi muito rico para as crianças dos dois projetos. Estes dias de vivência proporcionou a elas compartilhar sentimentos, preocupações e serem crianças, diz Ivanna.