Entre os dias 06 a 09 de maio acontece a décima edição do Fórum Mundial sobre Cuidados e Educação na Primeira Infância, em San Juan – Puerto Rico. Mais de 800 profissionais ligados à infância, de mais de 80 nações, se reunirão para debater e produzir material sobre diversos temas relacionados à primeira infância. Os seis representantes selecionados para Global Leaders (GL) do Brasil são de organizações membros da Rede Nacional Primeira Infância (RNPI).
Este grupo é formado por Ana Oliva Marcilio, representante da Avante – Educação e Mobilização Social; Nayana Brettas, da CriaCidade; Giovana Barbosa, da Aliança pela Infância; Gabriela Pluciennik, da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal (FMCSV); Moana van de Beuque, do Centro de Criação de Imagem Popular (CECIP) – e Paula Jancsó Fabiani, do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS).
O Global Leaders (GL) é um dos projetos do Fórum Mundial que tem por objetivo identificar e apoiar lideranças em todos os continentes para que desenvolvam ações de defesa dos direitos das crianças nos seus respectivos países e para que se fortaleçam como advogados da primeira infância. São formados grupos por regiões globais e um deles são as Américas, que é coordenado desde 2012 por Maria Thereza Marcilio, gestora institucional da Avante e integrante do grupo gestor da RNPI e que foi selecionada como Global Leader em 2009. Uma das funções do coordenador é a seleção, orientação e acompanhamento dos Global Leaders.
Em entrevista, Maria Thereza Marcilio esclarece sobre o papel dos GL e sua participação estratégica no Fórum Mundial.
Avante – Como estes representantes podem, a partir do desempenho do papel de Global Leader, beneficiar a primeira infância em suas regiões/países?
Maria Thereza – Eles serão instrumentalizados para aprimorar a visão sobre a Primeira Infância nas suas regiões, serão fortalecidos como lideres e para atuar como advogados deste público, além de receber apoio para a execução de projetos voltados para as crianças de 0 a 5 anos.
Um dos momentos propícios para isto é a participação em um seminário que será realizado só para eles, quando estarão em contato com nomes de referência da Primeira Infância e com GL de outras partes do mundo. Será uma oportunidade para troca de experiências, desafios e para pensar realidades.
No Seminário ou eles já apresentarão um projeto para desenvolver, ou adquirirão insumos para desenvolver um. O projeto tem que ser contextualizado, é preciso mostrar conhecimento sobre as principais questões relacionadas à Primeira Infância no país, eleger prioridades e pensar em algo que tenha condição de ser realizado e traga impacto para o público em questão.
Os GL recebem uma pequena ajuda financeira com o intuito de se organizar para captar mais recursos para executar o projeto proposto.
Avante – Qual foi o projeto que você realizou quando foi Global Leader em 2009?
Maria Thereza – Nesta época fui Global Leader junto com Gustavo Amora e nós conseguimos apoio para uma publicação (Primeira Infância em Primeiro Lugar – Experiências e Estratégias de Advocacy que traz experiências e estratégias de advocacy para disseminar estas ideias entre o maior número possível de pessoas. A publicação teve uma excelente aceitação e está esgotada.
Nós rebemos dois mil dólares para isto. Fomos à Rede Nacional Primeira Infância (RNPI) oferecer a publicação e solicitar apoio para complementação financeira para realização do projeto. Conseguimos com os apoiadores da Rede à época – Instituto C&A, e Bernard Van Lear.
Avante – Quais os critérios utilizados para a seleção dos GLs?
Maria Thereza – A ideia é selecionar pessoas que já tenham uma ação em prol da defesa dos direitos da Primeira Infância em seus respectivos países, que já tenham uma inserção reconhecida nesta área.
Avante – Qual a importância destes representantes serem de instituições membro da RNPI?
Maria Thereza – Nós reconhecemos a RNPI como uma potente articulação de organizações que militam em diferentes áreas afetas aos direitos das crianças e que, ademais a Rede elaborou, organizou e apresentou um Plano Nacional pela Primeira Infância (PNPI) que foi aprovado pelo Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda) em dezembro de 2010, cuja operacionalização deve ser monitorada e acompanhada por todos nós.
Reconhecemos que algumas ações ou projetos já desenvolvidos nas diferentes instâncias administrativas e nos diferentes órgãos do país já contemplam alguns destes direitos, e já tentam atender o que o Plano coloca. Mas ainda há um longuíssimo caminho a ser trilhado. Nossa intenção é que os projetos elaborados pelos GL do Brasil estejam dentro das diretrizes do Plano.
Avante – O grupo de GL das Américas está hoje com 14 membros, sendo seis do Brasil, um da Colômbia, dois do Peru, dois do México, um de Porto Rico e dois dos EUA. Como foi feita a seleção dos GLs de outros países das Américas?
Maria Thereza – Os candidatos se inscrevem no site do Fórum Mundial, preenchem um formulário de candidatura, falam do que fazem e o que pretendem fazer enquanto GL. São analisados pelo coordenador do grupo e a seleção é feita baseada nos critérios de participação, conhecimento, pro atividade, histórico e leva-se em consideração algum domínio do inglês, já que a língua do Fórum Mundial é esta.
Avante – Ao retornarem para o seus países de origem, como os GLs das Américas manterão contato?
Maria Thereza – Eles terão vários encontros virtuais regulares comigo, em grupo e individuais. Além disso, há uma outra ação do Fórum Mundial que são os GL Mentors, que foram GL em outra edição do Fórum e se propõem a fazer um trabalho de tutoria individual com estes novos.
Ainda como parte da formação, no início de 2015 deverá acontecer um Seminário aqui em Salvador de todos os GLs da Américas. Na ocasião, espera-se que os projetos estejam prontos e possam ser apresentados para análise, contribuições e aperfeiçoamento pelos próprios GLs e convidados que virão para o Seminário. Eles também terão acesso a experiências exitosas locais em prol da Primeira Infância.
Avante – No Fórum Mundial há cerca de 14 grupos de trabalho em temáticas diversas. Um deles é o GT de Direitos da Infância. Qual o foco deste GT?
Maria Thereza – Analisar e apresentar os dados de violação de direitos no mundo e construir formas de mobilização e incidência política para defesa destes direitos em especial nas regiões onde são mais violados.
Este grupo acabou se juntando ao grupo de educação para paz e daí surgiu o Comitê Childre’s Voices, que está interessado em produzir um documentário com escuta de crianças sobre seus direitos em diversas partes do mundo. Eu, Gustavo Amora e Ana Marcílio, selecionada nesta edição, estamos envolvidos nesta ação desde maio de 2012, quando Ana me substituiu no GT de Direitos das Crianças na Noruega e hoje nós duas o integramos.
Nesta edição haverá uma mesa redonda sobre o tema Participação Infantil onde eu, Gustavo e outros integrantes do Comitê faremos a apresentação da proposta do documentário.