“Eu deixei uma família rica, um casamento aristocrata para viver na clandestinidade, tudo por uma paixão. Tive uma vida intensa, mas não me arrependo e não quero morrer tão cedo”. Estas reverência e coragem que marcaram a vida da artista plástica pernambucana, Tereza Costa Rêgo, impregnaram as assessoras, supervisoras, gerentes de Educação Infantil e equipe da Avante e Instituto C&A, presentes no segundo dia (terça, 12 de agosto) do V Encontro de Formação e II Formação Itinerante do Paralapracá. O encontro foi uma experiência cultural pela visita ao atelier da artista e por conhecer, de caso contado pela própria, uma vida marcada pela rebeldia criativa.
Toda esta riqueza e inspiração fechou um dia que começou sob a batuta de Lilian Galvão, coordenadora pedagógica da formação à distância do projeto Paralapracá, que acolheu o grupo com danças circulares, conversas sobre a força e importância da mulher no e para o mundo. Lilian em seguida passou a condução das atividades para Fabiola Bastos, coordenadora de monitoramento do projeto, que apresentou à equipe presente o andamento da iniciativa nos municípios.
O dia também reservou um momento para uma visita ás instituições de Educação Infantil de Olinda. Patricia Lacerda, gerente da área Desenvolvimento Institucional e Comunitário do Instituto C&A e as educadoras do Centro Internacional Loris Malaguzzi (Reggio Emilia/Itália), Paula Strozzi e Vanna Levrini foram acompanhadas por Maria Thereza Marcilio, gestora institucional da Avante e assessora técnica do Paralapracá à creche Mãe Outra. “Foi muito importante ver o impacto do projeto já neste primeiro ano, ver as professoras falando em brincar, ver as instituições mais preocupadas com espaços mais adequados para as crianças. Ver pequenas mudanças, muito significativa e principalmente o entusiasmo das educadoras com o projeto”, conta Maria Thereza.
Depois de toda esta intensidade, o grupo foi agraciado por Marcia Souto, secretária de educação de Olinda, com uma visita à casa de Tereza Costa Rêgo. O contato com as obras e a casa singular onde mora a artista já seriam suficientes para considerarmos este momento uma experiência ímpar. Mas ouvi-la contando a sua história é uma daquelas oportunidades sem igual.
Conheça um pouco de Tereza Costa Rêgo
Aos 84 anos, Tereza guarda o mesmo vigor e disposição da menina que rompeu com a típica e abastada família da aristocracia recifense e com o casamento (com dois filhos) também aristocrata para viver uma intensa e desafiadora paixão. Cada uma de suas palavras é testemunha de uma história repleta de coragem e ousadia que a levou, a contragosto da família e sob represálias, a deixar o marido para unir-se a Diógenes Arruda, dirigente do Partido Comunista. Em 1964 a atitude custou-lhe todos os seus direitos, inclusive sobre os filhos, e transformou a menina rica em uma clandestina que, sob privação de bens, circulou o mundo, conviveu com grandes nomes da política e da cultura para retornar 14 anos depois ao Brasil e assistir, impotente, á morte de sua grande paixão por infarto fulminante ao chegar ao aeroporto de São Paulo.
Ao se dar conta da sua perda e da sua dor, Tereza foi capaz de alimentar um único pensamento: “até hoje eu fui filha de aristocratas, mulher de Diógenes, clandestina (então chamada de Joana), agora eu vou ser eu mesma e vou pintar”. A decisão transformou-a em um dos grandes nomes das artes plásticas de Pernambuco e sua história, até então vivente apenas na cultura oral, e vem proporcionando força e orgulho às mulheres que com ela têm contato. A equipe do Paralapracá despediu-se de Tereza com uma certeza ainda maior de que o mundo não seria o mesmo sem esta força feminina. “O que seria deste mundo, da política, das artes, da educação sem as mulheres?”, perguntou Lilian Galvão para fechar o encontro. E de fato: 100% das coordenadoras da Educação Infantil, professoras das instituições, assessoras do Paralapracá, gerentes de Educação Infantil, supervisoras técnicas das secretarias de educação dos 10 municípios onde o Paralapracá já passou ou está, são mulheres.
O projeto Paralapracá foi criado em 2010, como uma ação do programa Educação Infantil do Instituto C&A. Seu objetivo é contribuir para a melhoria da qualidade do atendimento às crianças na educação infantil, com vistas ao seu desenvolvimento integral. O projeto se desenvolve em aliança com secretarias municipais de Educação e possui dois âmbitos de atuação: a formação continuada de profissionais de educação infantil e o acesso a materiais de uso pedagógico de qualidade, tanto para crianças quanto para professores.
Em seu primeiro ciclo (2010-2012), o projeto apoiou os municípios de Campina Grande (PB), Caucaia (CE), Feira de Santana (BA), Jaboatão dos Guararapes (PE) e Teresina (PI). No segundo ciclo (2013-2015), é implementado nos municípios de Camaçari (BA), Maceió (AL), Maracanaú (CE), Natal (RN) e Olinda (PE).