A partir da trajetória da Avante – Educação e Mobilização Social, organização da qual é consultora, a mestre em Educação e Justiça, Ana Oliva Marcilio, fala sobre participação infantil para uma plateia de 150 pessoas, oriundas de diversos setores da sociedade. O relato aconteceu durante o 1º Seminário A Criança e sua Participação na Cidade, ocorrido nos dias 29 e 30 de setembro de 2013, no Rio de Janeiro, primeiro evento no Brasil dedicado ao assunto.
A fala de Ana e do outros especialistas no assunto foram registradas e sistematizadas. O resultado foi uma publicação que leva o mesmo nome do seminário, organizada pelo Centro de Criação da Imagem Popular (CECIP), atual secretaria executiva da RNPI (triênio 2015 – 2017).
O evento, que contou com um dia dedicado às crianças e outro aos adultos, foi idealizado e realizado pela equipe do projeto Criança Pequena em Foco (CECIP), em parceria com o Laboratório de Antropologia Urbana (LAU) do IFCS/UFRJ. O seminário (cujos temas foram organizados em duas mesas: refletindo sobre a criança e a participação na cidade e experiências de participação da criança na cidade) contou com o apoio da Fundação Bernanrd van Leer, Rede Nacional Primeira Infância (RNPI) e Instituto Pereira Passos/Rio+Social.
Além do relato de Ana Oliva, a publicação disponibiliza a fala de representantes de diversas instituições dedicadas à Infância como: Secretaria de Direitos Humanos, CECIP, Universidade de Brasília, UNICEF, Universidade do Minho/Portugal, Fundação Xuxa Meneguel, Centro de Educação para o Trânsito (CET-Rio) e Rio + Social, além de uma especialista da PUC.
Experiência Avante
A consultora da Avante integrou a segunda mesa. Em sua fala, sistematizada no artigo Estratégias de mobilização para a participação infantil: a experiência do Infâncias em Rede, a consultora conta que o fomento à participação política das crianças sempre fez parte das ações institucionais da Avante. A princípio de forma indireta, nas capacitações continuadas de professores da Educação Infantil. Mais adiante, por meio da construção de ações pontualmente voltadas à valorização da infância e de uma cultura de participação política das crianças, como na experiência do projeto Infâncias em Rede.
Ela relata os caminhos percorridos e alguns eventos marcantes que contribuíram para o amadurecimento dessa jornada, destacando um, do qual participou, na capital peruana, Lima, em 2012 – a Consulta Internacional de Expertos em Prevenção e Resposta à Violência contra a Criança na Primeira Infância. A participação no evento reforçou o desejo de levar a Avante a trabalhar em favor do fortalecimento político das crianças pequenas. Na oportunidade, ela, que é também psicóloga com especialização na área social, conheceu o trabalho da Infant – Nagayama Nório. Uma ONG que desenvolve ações em Lima e Iquitos para localizar coletivos de crianças e adolescentes utilizando a brincadeira como ferramenta metodológica.
Partindo dessa experiência, a consultora da Avante narrou como foi a implantação do projeto Infâncias em Rede, que está em andamento na comunidade do Calabar, em Salvador. Sua fala passa também por uma análise comparativa da situação das crianças brasileiras e peruanas, no que se refere à participação política. Relata, por exemplo, que o Peru está à frente do Brasil neste quesito, o que se reflete numa maior participação política também dos adultos peruanos, se comparado aos adultos brasileiros.
Essa realidade nacional foi um dos obstáculos que o Infâncias em Rede, que é coordenado por Ana Marcílio, teve que superara. Entre outros obstáculos, foram também destacados por ela a desconstrução de estigmas e do olhar negativo das crianças sobre o espaço onde vivem. Nesse sentido, a experiência peruana lhe foi muito útil, pois o projeto da Infant conseguiu mudar a ideia que as crianças tinham de si, por viverem em áreas ribeirinhas que alagavam constantemente. “De meninos ‘pobrezinhos’, eles passaram a ser os organizadores de um evento chamado Festival da Água”, conta.
Hoje, as crianças do Calabar, participantes do projeto realizado pela Avante em parceira com a Fundação Bernard van Leer, já conseguiram mudar muitos dos conceitos que lhes limitavam como seres políticos e futuros cidadãos com capacidade de melhorar realidades. Reformas em praças, convite para participar de audiências públicas, maior interação com a comunidade, e, claro, tudo isso a partir de muita brincadeira, são algumas conquistas do projeto.
A narrativa de Ana Marcilio sobre esta trajetória tem um valor informativo, formativo e inspirador, além de, em seu bojo, trazer temas que são pautas importantes de debates para todos os que pensam a participação política da criança pequena.