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Especialistas discutem importância de posicionamento da Educação Infantil na pandemia

A Educação Infantil poderá estar seriamente comprometida caso o setor não reivindique seu lugar de fala durante a pandemia do Covid-19. “Meu temor é que ‘outros’ definirão o que a Educação tem que fazer”, disse Rita Coelho, considerada como uma das baluartes do segmento no Brasil por participar ativamente das lutas pela defesa da infância e da Educação democrática.  Ela alerta que os prejuízos serão ainda mais graves para o setor caso o mesmo não se organize e faça um diagnóstico sobre os impactos da pandemia, e apresente um plano intersetorial de retomada de suas atividades com o fim do isolamento social, o que pode acontecer a qualquer momento.

“Eu acho que a pandemia destampou uma ferida podre. A primeira dimensão é que nós estamos tendo que lidar com a desigualdade, com a injustiça [social], que nós naturalizamos. É inacreditável como nós naturalizamos a desigualdade no Brasil, dentro de nossas casas, com nossos empregados. Dentro da Escola, com as diferenças salariais, com a diferença de tratamento que é dado à rede comunitária ou conveniada e à rede pública. Essas coisas estão reveladas e têm decorrências. No caso da Educação, eu sinto uma total paralisação do setor. A gente tem feito muitas críticas ao MEC [Ministério da Educação], que está totalmente omisso, mas eu sinto que a área da Educação está desarticulada”, afirmou a especialista.

As declarações foram feitas durante a Web série Conexões: “Refletindo as Políticas Públicas de Educação Infantil durante a Pandemia”, realizada pela Avante – Educação e Mobilização Social, no último dia 10 de junho, em seu canal do YouTube. Rita Coelho considera que as próprias unidades de ensino devem se organizar, sugerindo que as mesmas formem seus comitês de gestão de crise, inicialmente, para ter mais autonomia e melhor diálogo com os poderes públicos na elaboração de reivindicações que serão necessárias, como investimentos na pasta para garantir a adaptação estrutural das escolas, o treinamento dos profissionais da Educação e o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), para a proteção à saúde de toda a comunidade escolar.

Cabe lembrar que já se passaram mais de três meses desde que as escolas tiveram de fechar suas portas como forma de contenção do avanço da pandemia. Em março, o UNICEF estimou que, na América Latina e no Caribe, mais de 154 milhões de crianças, cerca de 95% dos alunos matriculados na região, estavam temporariamente fora da escola devido à Covid-19.

Ação Intersetorial – Rita Coelho sugeriu que a Educação Infantil deva atuar em conjunto com outros setores, como a Saúde e a Assistência Social, na elaboração dos chamados “protocolos de retomada” das atividades no pós-isolamento social. “Os profissionais da Educação têm os conhecimentos sobre o funcionamento e o cotidiano dos centros de Educação Infantil e são fundamentais nas decisões sobre esses protocolos sanitários. “A Educação deve participar dessas definições”, disse, referindo-se às rotinas de creches e escolas em relação aos cuidados e ao dia a dia das unidades escolares.

Ela destacou ainda que é importante compreender qual será a necessidade por investimentos emergenciais – como da mesma forma os governos estão fazendo diante da crise na Saúde pública – e quais as medidas de segurança a serem adotadas tanto para a proteção dos trabalhadores e professores da Educação quanto dos próprios alunos.

Rita Coelho lembrou ainda que em vários países do mundo, sem citar quais, creches e pré-escolas continuaram funcionando durante a pandemia para atender crianças em situação de vulnerabilidade, que são filhos e filhas de trabalhadores de serviços essenciais – motoristas de ônibus, profissionais de saúde e de limpeza pública, para citar – como forma de proteção de direitos das crianças. Ela esclareceu, contudo, que não defende a volta às aulas durante a pandemia e sim que a Educação também seja entendida como um direito básico essencial nesse período, devendo ser assegurada às crianças em situação de maior vulnerabilidade, que possam estar em risco social.

O debate foi conduzido pela presidente da Avante, Maria Thereza Marcilio, que citou, como exemplo de planejamento das rotinas, a situação de volta às aulas na França a partir de novos protocolos quanto à higienização dos espaços, redução do número de alunos por turmas e adoção do rodízio por dias da semana no momento inicial quando houve a retomada das aulas para os alunos da Educação Infantil. Ela salientou que embora devamos estar atentos e informados sobre como está sendo o retorno em outros países, é necessário ter em mente as diferenças entre os países. No nosso caso, a dimensão continental, a quantidade de crianças atendidas e a imensa desigualdade são fatores essenciais para pensar o retorno.
Para Maria Thereza Marcilio, além do planejamento de novas rotinas e configurações, o planejamento das atividades precisa contemplar também o acolhimento tanto aos profissionais do setor, como aos educadores, às famílias e às próprias crianças antes que os espaços voltem a funcionar de forma regular. “A gente está tendo uma chance de olhar melhor, de ver mais, de buscar o outro, de dar as mãos ao outro”, disse Maria Thereza, reforçando a importância do aprimoramento do diálogo e da participação das famílias nas escolas. Uma das participantes da live, via chat, Vera Herculano, comentou que “é preciso pensar um planejamento para o retorno às creches e escolas que respeitem os direitos das crianças, famílias e educadores”, disse.

O próximo webinar da Avante da Série Conexões está programado para hoje, sexta-feira, 19, das 17h às 18h, no canal do YouTube da instituição. Desta vez, Maria Thereza Marcílio conversará com Gilvânia Nascimento  – docente da Universidade Estadual de Santa Cruz/Departamento de Ciências da Educação e coordenadora estadual da UNCME Bahia. A live terá como tema “Conselhos Municipais de Educação -Desafios e Possibilidades em tempos de pandemia”.

A participação é gratuita e aberta ao público em geral. Para se inscrever, clique aqui.

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