Trinta anos de uma relação intensa, pessoal, de trabalho e parceria. Um breve resumo do que representa Eliana Kertész para a consultora associada fundadora da Avante, Maria Thereza Marcilio, que em nome da instituição, lamenta a morte da artista plástica, no dia 26 de março, aos 71 anos, em decorrência de um câncer. “A gente tem marcas fortes da presença de Eliana; muito autônoma, ela era um parâmetro de mulher. Para mim, é uma perda enorme de amizade”, afirma Thereza.
Conhecida por grandes esculturas espalhadas pela cidade de Salvador, sobretudo as famosas “Gordinhas de Ondina”, na educação, a vida de Eliana ficou marcada pelo período à frente da Secretaria Municipal de Educação e Cultura, na segunda administração de Mário Kertész como prefeito de Salvador (1986-1989). “Passados 30 anos, continuo sendo parceira da Rede, em outros projetos. Quando eu chego lá, na Secretaria, as pessoas fazem referência ao tempo de Eliana, da equipe, que era um grupo fantástico que a gente tinha lá”, afirma Maria Thereza.
Convidada para ser assessora de Eliana, Thereza logo assumiu a Coordenação de Ensino, um tempo muito frutífero, que segundo ela, só foi possível por se tratar de uma gestora sensível, aberta, que acreditava na equipe. “A gente instituiu um processo de formação continuada na Rede. A cada 15 dias, as escolas paravam para discutir suas práticas, com apoio da secretaria, usando as referências teóricas mais atuais daquela época, num processo que se espalhou para vários municípios, e também continua sendo, no caso da Avante, a matriz usada para trabalhar com os professores.”
Inovação
Na memória, são muitas as ações realizadas naquela época. “Fizemos as diretrizes pedagógicas para a Rede, eleição direta para diretor, um dos primeiros lugares do país que investiu em eleição direta para diretor. Criamos o ciclo básico de alfabetização, uma coisa absolutamente inovadora também, que compreendia o último período da Educação Infantil com os dois primeiros anos do ensino fundamental; já numa perspectiva de levar para esse período uma concepção de processo de alfabetização, e não como um ano só que a criança tinha que dar conta de tudo”, recorda Thereza.
Entre os vários feitos listados, o intercâmbio com especialistas nacionais e estrangeiros. “Fizemos seminários, trouxemos Lúcia Browne Rego, Terezinha Carraher, gente do Brasil inteiro para discutir questões pedagógicas, de formação de professores, de alfabetização, de matemática. Trouxemos Emilia Ferreiro e Delia Lerner, da Argentina. Um período que, para mim, foi a ocasião que tive de dar forma aos sonhos e ao que eu acreditava na Rede, de dar concretude a tudo que eu tinha estudado, pensado, e tentado fazer”, relembra.
Biografia
Maria Eliana Pires Mascarenhas Kertész nasceu em Conceição da Feira, no Recôncavo Baiano, em 1945, e já aos seis anos mudou-se para Salvador, onde formou-se em administração pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Lá, conheceu Mário Kertész, com quem viria a se casar em 1971 e ter os filhos Marcelo, Maria Eduarda, Mariana e Francisco.
Especializada em ciências políticas e planejamento econômico, ela filiou-se ao PMDB, em 1981, um ano antes de se candidatar a vereadora. Em 1982, elegeu-se com 94 mil votos – o equivalente a 17,3% dos votos válidos, na maior votação para o cargo no país inteiro e até hoje uma marca inigualada entre as capitais.
Na segunda administração de Mário Kertész na Prefeitura de Salvador, Eliana licenciou-se do cargo e assumiu a Secretaria Municipal de Educação e Cultura. Posteriormente, também foi coordenadora do Turismo da Bahia.