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Educação sem política não existe

Subjacente ao pedagógico, o político. E a este, o discurso dos direitos das crianças. Recado dado logo na abertura do Seminário Nacional Educação Integral nas Infâncias.

“Se é verdade que o espírito da infância irá dominar o mundo é bom darmos a esse evento um toque da leveza e alegria que compõe a infância”, disse Silvio Carvalho, mestre de cerimônia do Seminário Nacional Educação Integral nas Infâncias, que aconteceu nos dias dois e três de maio, no Teatro SESC – Casa do Comércio, em Salvador (BA). Silvio é músico e professor, e desenvolve um trabalho de formação para a docência utilizando a música como fio condutor, e Paulo Freire como inspiração, a partir da concepção de que ler e interpretar o mundo são a primeira tarefa do humano. Ele foi o mestre de cerimônia do evento prestigiado por uma plateia formada por uma diversidade de profissionais de 35 municípios, de 16 Estados brasileiros, além daqueles que acompanhavam o debate conceitual dos pressupostos e práticas para o desenvolvimento e a aprendizagem de crianças de 0 a 12 anos por meio de transmissão ao vivo.
Esse público, predominantemente da Educação, tanto da rede particular como das redes municipais, com diferentes perfis como: secretário e demais gestores, professores, e coordenadores pedagógicos, mas também com representantes de outras áreas, como: assistência social e saúde, teve como acolhimento a fala de Maria Thereza Marcilio, presidente da Avante – Educação e Mobilização Social, instituição organizadora do Seminário, que afirmou, categoricamente, que o discurso da Educação é eminentemente político.

“Educação sem política não existe. Ela deve, continuamente, questionar e confrontar a economia, o sistema político, a sociedade de um modo geral. Se não for assim, não é Educação”, disse Maria Thereza, dando o tom das apresentações dos palestrantes que inspirariam cerca de 400 profissionais e especialistas reunidos presencialmente e quase 10 mil alcançados pela transmissão ao vivo do evento. À luz da publicação: Educação Integral nas Infâncias, elaborada ao longo de dois anos pelo Centro de Referências em Educação Integral (CEI), com o apoio do Instituto C&A, foi defendida, ao longo do dois dias, uma pedagogia implicada com a garantia dos direitos das crianças.

A publicação, que discorre sobre a potência da Educação Integral na constituição de uma escola que coloca a infância no centro de seu Projeto Político Pedagógico, a despeito da etapa escolar a que se refere, aposta que a Educação Integral traz um potencial de transformação da escola como um todo, ao reconhecer as crianças “não como seres imaturos, definidos por aquilo que não sabem, mas como sujeitos sociais, produtores de cultura, e em plano de igualdade com outros grupos geracionais”, como aponta o próprio texto.

Em sua fala, Maria Thereza Marcilio reforçou essa proposta ao provocar a plateia para seu compromisso inato com a garantia dos direitos das crianças, desde o seu nascimento. “Subjacente ao discurso pedagógico há o discurso político e, por trás desse, o discurso dos direitos. Cabe a nós, educadores, assegurá-los. Isso não é um favor. E o ponto de partida é a escuta das crianças”, disse, antes de passar a fala para Diana Silva, do Instituto Alana, Janine Schultz, do Instituto C&A e Natasha Costa, do Cidade Escola Aprendiz, que fizeram considerações sobre os rumos da Educação no Brasil, a importância de ações individuais para se mudar um cenário de desafios para a conquista de uma Educação Integral que respeite a infância, colaborando para o seu desenvolvimento integral.

O que será do Brasil?

A primeira palestrante do evento, Lydia Hortélio, educadora e etnomusicóloga assumiu o microfone para falar sobre “O lugar da criança nas manifestações populares”. Alinhada com o discurso da publicação, Lydia questionou: “O que será de uma humanidade que não canta mais? A verdade é que a música está se calando. No País da música, no Brasil, não se canta mais. Acredito que o desconserto que vivemos no nosso País vem daí. Se isso desaparece não tem mais Brasil, a gente tá triste e não sabe o porquê. A força de afirmação de um povo depende do exercício de sua cultura”, disse, assegurando que só se conhece o Brasil, verdadeiramente, pela música e pelo corpo.

Lydia cantou e foi acompanhada pelo público. Explanou sobre a cultura da criança e o brincar, sendo categórica: “a inteligência da criança está no corpo, em todas as células do corpo. A gente não parou para olhar a criança ainda, para vê-la como ela realmente é”, disse a etnomusicóloga responsável pelo registro e catalogação de manifestações de cultura brasileira, com um olhar cuidadoso para a zona rural baiana, reunindo uma coleção de mais de 3.000 brinquedos musicais.

Lydia se disse feliz ao ver aquela reunião de pessoas discutindo uma temática tão importante, e fez questão de marcar presença no segundo dia do evento, em todas as palestras, e afirmar, nas considerações finais do Seminário, acreditar que, ao vivenciar aquela discussão, ela acredita que, agora, o Brasil vai: “Aos meus 85 anos quero dizer a vocês que só o sonho tira a gente do lugar. Pergunte pra si mesmo: qual é o seu sonho? O que lhe traz alegria? Se for isso aqui que você realmente quer, vai levar a brincar às escolas. Por tudo que ouvi hoje aqui: o Brasil vai!”.

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