De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (Resolução CNE/CEB nº 05/2009), as práticas pedagógicas que compõem a proposta curricular da educação infantil devem ter como eixos norteadores as interações e a brincadeira e garantir experiências que, entre outras dimensões, valorizem a vivência com diferentes narrativas e gêneros textuais.
O artigo 9º do documento estabelece que as práticas pedagógicas devem garantir experiências que favoreçam a imersão das crianças nas diferentes linguagens e o progressivo domínio de vários gêneros e formas de expressão (gestual, verbal, plástica, dramática e musical), além de possibilitar às crianças experiências de narrativas, “de apreciação e interação com a linguagem oral e escrita, e convívio com diferentes suportes e gêneros textuais orais e escritos”.
Aos olhos da professora Claudia Pimentel, doutora em educação e especialista em literatura e educação infantil, que participou recentemente do VIII Encontro de Formação Paralapracá, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil são a prova viva da justa preocupação do Ministério da Educação (MEC) com as práticas de leitura nas instituições que atendem crianças de 0 a 6 anos.
Em texto redigido a partir de sua participação no encontro de formação do projeto Paralapracá em Natal (A leitura e a escrita na Educação Infantil: diálogos com as diretrizes nacionais e o Paralapracá), Claudia assinala que é importante lembrar que a linguagem, nas suas diferentes expressões, é constituinte do sujeito e que é nas interações com o outro que crianças e adultos conhecem o mundo e a si mesmos. “Em outras palavras, trabalhar a leitura e a escrita na educação infantil é percebê-las no fluxo das interações entre sujeitos, e não como matéria de estudo dos linguistas”, escreve a especialista.
A literatura é um dos seis eixos formativos do Paralapracá, entendida pelo projeto como uma questão de fundamental importância na constituição dos sujeitos. Conforme situa o Caderno de Orientação Assim se faz literatura, “a arte literária não tem um sentido utilitário, mas de favorecer a liberdade, de emocionar e ampliar a experiência de mundo. Quando falamos em literatura para crianças, falamos também na formação leitora, em especial a formação do leitor de literatura”.
De acordo com o caderno, o professor é um mediador de leitura muito importante na educação infantil: “Além de oferecer o universo literário para as crianças e, junto com isso, instigar a curiosidade em relação aos livros e ao que eles trazem, os adultos que leem para elas estão também apresentando características e especificidades do mundo da escrita e, principalmente, compartilhando atitudes e rituais referentes à leitura”.
Em relação à formação do professor da educação infantil, a avaliação de Claudia Pimentel é que o MEC tem se esforçado não só em produzir materiais destinados aos professores, mas também em viabilizar, em parceria com universidades públicas, cursos de especialização e de aprimoramento de docentes. Na visão da especialista, o projeto Paralapracá atua em consonância com esse movimento ao produzir, além de materiais que orientam a prática do professor, publicações e encontros presenciais destinados à sua formação. “Isso marca a proposta do projeto Paralapracá de formação docente”, diz Claudia.
Ainda no texto A leitura e a escrita na Educação Infantil: diálogos com as diretrizes nacionais e o Paralapracá, a especialista afirma que, apesar de ser o docente quem de fato pode garantir as experiências e interações com a linguagem no cotidiano escolar, ele não atua de maneira isolada.
“A docência é exercida na relação com a equipe gestora de cada escola, que por sua vez pertence a uma rede organizada por secretarias municipais de Educação que compõe o sistema público de ensino norteado pelo MEC. Dessa forma, o conhecimento sobre as DCNEI [Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil] é ferramenta indispensável do professor no seu cotidiano e também uma forma de ancoragem nos debates nacionais sobre a educação infantil”, escreveu Claudia.
Segundo Mônica Samia, coordenadora de implementação do projeto Paralapracá na Avante – Educação e Mobilização Social, o eixo literatura oferece uma oportunidade de fomento à discussão sobre o lugar da linguagem verbal – oral e escrita – na educação infantil. “O foco não é a questão da alfabetização em si, mas as metodologias usadas para que a criança se vincule de forma positiva ao universo escrito e deseje aprender a ler e escrever”, acrescenta Mônica. A coordenadora recomenda a leitura do texto Insumos para o debate: a leitura e a escrita na educação infantil – explicitando a visão embutida no projeto Paralapracá, que traz o posicionamento do projeto em relação à temática.
O VIII Encontro de Formação Paralapracá foi realizado em Natal, entre os dias 8 e 12 de junho.
Fonte: site do Paralapracá.