Uma viagem repleta de magia, curiosidades e ancestralidade na qual, para carimbar seu passaporte, é preciso, antes, vivenciar contações de histórias preenchidas por trilhas sonoras e intensas sensações, além de muitas descobertas reveladas por uma lupa apontada para pequenos segredos escondidos em obras de grandes pintores. Difícil descrever a experiência vivida pelas crianças e suas famílias, atendidas pelo projeto Estação Subúrbio – nos trilhos dos direitos (Avante e KNH) no último Trocando em Miúdos do ano. O Projeto as levou à Caixa Cultural para degustar a mostra O Trem da História – uma viagem imaginária de trem, que revela os diversos períodos da história da arte, por meio de réplicas de obras importantes.
Inspirada no livro de mesmo nome: O Trem da História, da escritora Katia Canton, que também assina as curadorias artística e educativa da exposição, a mostra ficou em cartas até o dia 16 de dezembro, voltada para crianças e adolescentes. Dividida por temas, a experiência colocou à disposição do público réplicas das obras de artistas como: Tarsila do Amaral, Van Gogh, Di Cavalcanti Candido Portinari, Leda Catunda, Carmela Gross, Anita Malfatti, Ismael Nery, Leonilson, Regina Silveira, Jorge Barrão, Renoir, Paul Gauguin, Claude Monet, Hieronymus Bosch, Giorgio De Chirico, Henri Matisse, Marc Chagall, Edgard Degas, Rembrant, Picasso e Lasar Segall.
As crianças da Ocupação Quilombo do Paraíso, no Subúrbio Ferroviário de Salvador (BA), foram ao encontro desse universo por meio de tecnologia social desenvolvida pela Avante – Educação e Mobilização Social e inserida entre as ações de seus projetos de formação e mobilização (Trocando em Miúdos). A ideia da iniciativa é levar as crianças a explorar a cidade, a cultura, suas raízes e a arte. Esse ano, elas, muitas pela primeira vez, estiveram no Centro Histórico, assistindo a peça teatral O Barão na Árvore, no Arena Teatro SESC Pelourinho. Em 2017, as crianças e seus familiares tiveram a oportunidade de visitar o Parque da Cidade e conhecer o Espaço Cultural Plataforma, onde assistiram ao espetáculo de dança Meu querido catavento.
“Esse é o tipo de proposta que gera impactos afetivos/emocionais, de auto estima. Quando temos a participação da família são fortalecidos os vínculos: criança-criança, criança-família, bem como com o projeto”, disse Camila Souza, educadora brincante do Estação Subúrbio, que integrou a equipe do projeto esse ano.
Estranhamento?
A primeira reação de André, 9 anos, diante do convite de realizar essa viagem na história foi imaginar a ida a um lugar repleto de antigos dinossauros e coisas velhas. “Essa é, sem dúvida, uma experiência que foge completamente do vivido no dia-a-dia dessas crianças. Dessa vez, não vimos nada disso, fomos à Caixa Cultural”, conta Camila Souza.
As crianças estavam cercadas de expectativas. O ambiente era agradável, a equipe da Caixa Cultural se mostrou extremamente sensível e acolhedora. Logo na chegada aceitaram a proposta de uma cantoria em roda. Só depois, as crianças, cheias de curiosidades, subiram para a primeira exposição, onde viram muitos elementos da cultura afro. “Tudo em uma linha do tempo que contemplava um pouco da nossa ancestralidade, principalmente a construção e desenvolvimento dos blocos afros. As crianças puderam experimentar o ambiente, ouvindo os diferentes ritmos, músicas e dançando na sala interativa”, lembra Camila Souza.
Em seguida, “um passeio de trem” através da imaginação. As crianças puderam explorar os detalhes das obras de grandes pintores e enxergar os “segredos escondidos em um quadro”. Só ao final da aventura os passaportes foram carimbados. “Durante todo o tempo elas estiveram muito presentes, foi muito intenso e em seus rostos estavam estampados sorrisos, caras de susto, apaixonamento, olhos que tentavam dar conta de tudo aquilo em curtos flashes e que pediam mais”, disse a educadora do Projeto, que foi acompanhada por outros membros da equipe. Juntos cuidaram de todo o trajeto para que as crianças e seus familiares se sentissem muito à vontade diante de toda aquela novidade, em um território que, na maior parte do tempo, em suas vidas, parece não lhes pertencer.
“Ao final de tudo o que mais importa em dias como esse são os efeitos que a experiência pode proporcionar: uma pausa dessa realidade dura, fornecendo um espaço para que as crianças possam ser crianças’, descreve Camila Souza. Aneide Meire Carrilho, mãe de Meirinha, 15 anos, atendidas pelo Estação Subúrbio, concorda com a educadora: “não perco mais nenhum passeio. Isso foi muito bom”, disse. Ela contou que as duas acordaram muito cedo aguardando a hora de ir”.
Estação Subúrbio
O Projeto, realizado por meio de parceria entre a Avante – Educação e Mobilização Social e a organização alemã – Kindernothilfe, visa a redução da violência comunitária urbana, sobretudo de crianças e adolescentes, com ações que estimulem o envolvimento de atores da comunidade na defesa dos direitos da criança e do adolescente, na colaboração para o desenvolvimento infantil, o cuidado com o ambiente comunitário, promovendo o sentimento de pertença e a qualidade nas relações interpessoais.