A distância das atividades com os colegas, percepção de maus tempos e mudanças bruscas nas rotinas ascenderam sentimentos e emoções ruins em crianças. Os dados são do relatório “Infância e pandemia na Região Metropolitana de Belo Horizonte: Primeiras análises”, realizado pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Infância e Educação Infantil (NEPEI).
A pesquisa foi realizada totalmente online com mais de duas mil crianças entre 8 a 12 anos da região metropolitana de Belo Horizonte – RMBH. A escuta das crianças ocorreu por meio de questionário online, com questões abertas e fechadas, pela troca de mensagens, desenhos e fotografias em um ambiente virtual e pela realização de entrevistas com a utilização de recursos de comunicação à distância. O objetivo foi compreender como eles vivenciam a pandemia da Covid-19 e analisar as rotinas, as relações sociais e as experiências das crianças, com foco nas suas emoções e sentimentos, considerando como as desigualdades sociais, territoriais, raciais e de gênero repercutiram nas diversas experiências.
As respostas acendem alerta para a necessidade de atenção e ajuda psicológica a este público: “Fico triste porque à noite tenho ansiedade e começo a chorar à toa, e tenho medo da minha mãe morrer e ficar sozinha no mundo”, respondeu uma garota de 11 anos. Um garoto de 10 anos pontuou que ficava triste com a redução da sua vida social à pontuais idas ao parque ou à praça: “Eu não posso sair. Eu só saio um pouco para brincar na praça e no parquinho, então tá me deixando triste”, disse.
Por outro lado, as crianças também listaram as ações que causam alegria e as fazem rir durante a pandemia. As relações interpessoais e o aumento do tempo com a família foram massivamente usadas nas respostas: “Minha mãe está em casa. Antes eu mal via ela”, disse um garoto de 11 anos. “O tempo que eu tenho com minha família me deixa muito feliz, e os vídeos engraçados na internet me fazem rir”, respondeu outro de 12. “Estar bem, e em casa, e pensar que vai passar. Vídeos no youtube e as brincadeiras do meu pai me fazem rir”, pontuou uma criança de 10 anos.
A pesquisa pediu às crianças para revelarem o que estaria lhes causando preocupação. Em primeiro lugar, com 93,3% das respostas, está o medo com o adoecimento de familiares. Em seguida, com 89,7%, a preocupação é com o reencontro com os amigos. Em terceiro, com 88,8%, a preocupação é com o próprio adoecimento. Em quarto e quinto lugar, com 80,8% e 74% as preocupações são, respectivamente, com o desemprego dos familiares e a falta de alimentos em casa e em supermercados.
Após a análise de todas as respostas das crianças, os pesquisadores do NEPEI divulgaram recomendações ao poder público de ações voltadas ao público infantil, a partir da escuta das próprias crianças. Entre elas: “que as políticas e ações destinadas às crianças considerem suas identidades, seus contextos de vida familiar e comunitária e que sejam formuladas tendo em conta as diversas fragilidades e o precário acesso a bens materiais básicos de parcela expressiva da população infantil.
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