O livro “Educação brasileira uma utopia do fragmento em curso” foi lançado no 38º Festival de Livros e Autores da EDUFBA. O evento ocorreu no dia oito de dezembro de 2021, durante o congresso virtual em homenagem aos 75 anos da UFBA, por meio do canal da Universidade no Youtube. A coletânea organizada por Maria Thereza Marcilio, Mestra em Educação, Presidente da Avante – Educação e Mobilização Social, e Marilu Fontoura de Medeiros, Professora Doutora Titular da UFRGS, traz a memória de um programa de Educação Básica lançado há 40 anos pelo pelo Ministério da Educação (MEC), que tinha como princípio e motivação a abertura do diálogo entre a Universidade e a Educação Básica, as instituições formadoras de professores e os órgãos estaduais e municipais responsáveis pela oferta.Composto por 15 capítulos repletos de ideias, estratégias e resultados da aplicação das teorias, e das experiências na interação entre seus atores, o livro faz o registro histórico de uma época vivida por quem trabalhava em prol da Educação durante um regime ditatorial. Resgata o “Programa de Integração da Universidade com o Ensino de 1º Grau”, uma iniciativa da Secretaria de Ensino Superior do MEC, realizada com recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Esse resgate também evidencia a permanência dos princípios orientadores do Programa, presentes nos textos dos colaboradores que trabalharam nele e nos de autores que não o conheceram, mas reverberam seus valores.
O Programa foi articulado e também idealizado pelo então subsecretário, ex-diretor da Faculdade de Educação da UFRGS, Gilberto Medeiros, e tomou forma na coordenação de ciências humanas e sociais da mesma subsecretaria, cuja coordenadora era Marilu Medeiros, cabendo a coordenação do Programa a ela e a Maria Thereza Marcílio. Ambas professoras serviam ao MEC desde o final dos anos 70 e queriam desvendar e apoiar a relação da Universidade com a Educação Básica na construção de caminhos para uma escola que fizesse sentido e tivesse significado para todos.
Aproximação entre teoria e prática
A obra resgata iniciativas de construção de confiança, abertura de diálogo, compartilhamento de saberes e experiências adquiridas no fazer com qualidade a Educação Básica, inteiramente, naquele momento, nas mãos dos estados e municípios e sem receber qualquer financiamento federal. Anterior à Constituição de 1988, o Programa foi pioneiro na proposição de um diálogo verdadeiro entre as duas pontas da Educação e na proposta de colocar a escola de 1º e 2º graus (atuais Ensino Fundamental e Médio) como o centro das atenções e da produção de conhecimento, questionando os conceitos e as práticas de Ensino Superior e Ensino Básico vigentes.
O trabalho coletivo e de estrutura rizomática buscava fortalecer as pontas para chegar no todo, procurava nas práticas o alicerce para fortalecer todo um sistema. Ao longo de três anos, o Programa envolveu de forma participativa quase todas as universidades públicas do país e muitas instituições privadas, além de alcançar todos os estados da federação. Com um grupo de consultores de diferentes áreas do conhecimento e instituições formadoras, os esforços iluminaram uma movimentação permanente na Universidade, nas escolas e secretarias que se comprometeram com a sua realização.
Educação brasileira uma utopia do fragmento em curso mostra a força dos profissionais dedicados à área em uma época de autoritarismo, com um trabalho levado à frente por uma equipe potente e corajosa. “O livro vem marcar uma posição muito forte em um momento muito duro para a Educação, semelhante ao que estamos vivendo hoje, de retrocesso e desmonte”, disse Maria Thereza durante o lançamento. Os autores reunidos nesta coletânea são alguns dos consultores do Programa, que refletem sobre o passado e o presente, assim como outros profissionais da Educação que não conheceram o Programa, mas revelam em suas práticas de hoje os mesmos princípios formadores.
A semente foi lançada
Apoiado em materiais produzidos por relatórios, depoimentos de alunos e professores, documentos produzidos pelos próprios autores em seus projetos e cedidos à coordenação, o livro sinaliza a resistência de mentes brilhantes pela Educação e as batalhas internas no MEC por um ambiente democrático. Lança luzes aos avanços conquistados com muita luta dos profissionais da época e que continuam na ativa, em alerta, para que a história não se apague, e para evidenciar a importância de criar, manter e fortalecer políticas públicas que levem a uma Educação de qualidade, pública, gratuita e laica para toda a população. A coletânea reflete sobre semelhanças entre as condições que existiam à época e o que se faz hoje, trazendo análises sobre contradições e paradoxos inerentes ao funcionamento de sistemas educacionais nas suas reais complexidade e diversidade.
De acordo com as organizadoras do livro, ele existe para que todos saibam que Educação é um projeto coletivo, participativo, e que é necessário que muitos se comprometam com sua defesa. “A ideia de que educar é plantar árvores e formar florestas é a que mais ilustra o empreendimento. Não é algo para uma gestão, para uns poucos anos. É investimento de longo prazo, para a construção de uma nação” (pág. 246).
Como emoldurou Marilu Medeiros, com citação de Érico Veríssimo, encerrando sua fala no lançamento, “Eu acendo luz para dizer que eu continuo aqui no meu posto, se eu não tiver luz, eu acendo velas, se eu não tiver velas, eu acendo fósforos, para dizer que eu continuo aqui, ativa, vivendo o presente para lutar por uma Educação de qualidade, laica, gratuita, com cidadania e dignidade”. Elementos que estão aqui, ainda, e sempre. Recomendamos fortemente a leitura. Viva a Educação brasileira!
O livro pode ser adquirido através do Whatsapp da EDUFBA: 71 9732-2726 ou de outros contatos que estão no site da Editora da Universidade Federal da Bahia.
