A criança, sujeito de direitos. Direito à participação na vida urbana, à escuta e inclusão, ao brincar e à cidade, com e autonomia e liberdade, em segurança, são as temáticas abordadas no artigo Direito ao brincar, de Ana Marcilio e Maria Thereza Marcilio, consultoras associadas da Avante – Educação e Mobilização Social, que integra a publicação Cidade, gênero e infância, organizada pelos arquitetos e urbanistas Rodrigo Mindlin Loeb e Ana Gabriela Godinho Lima. O livro é voltado para a formação de arquitetas, arquitetos, urbanistas e profissionais de diferentes áreas e incentiva um olhar sobre infância, gênero e cidade na promoção do desenvolvimento humano.
No artigo, as autoras falam sobre o trabalho da Avante em comunidades de Salvador (BA), como o Calabar e a Ocupação Quilombo do Paraíso, no Subúrbio Ferroviário, abordando as vulnerabilidades do território, como consequência de um desenvolvimento desigual, que afeta as infâncias de forma negativa, impactando na vida adulta. Partem da experiência de escuta ativa de crianças, dados e análises que mostram como a violação de direitos na cidade é disparada ou está relacionada com a negação do direito ao brincar.
O texto sugere “estratégias simples que podem contribuir para reduzir conflitos e violências, e também transformar a cidade – e principalmente os territórios vulneráveis – em espaços que garantam qualidade de vida e bem-estar às crianças e, consequentemente, aos demais moradores”.
Desafio dos 95 cm
Se você pudesse vivenciar uma cidade a uma altura de 95 cm – altura média de uma criança saudável de três anos – o que você faria de diferente? Essa foi a questão lançada pelo concurso Urban 95 Challenge, que selecionou 26 projetos ao redor do mundo, com três contemplados no Brasil, sendo um deles o Núcleo de Pesquisa em Cidade, Gênero e Infância, da Faculdade Mackenzie, em cooperação com o Instituto Brasiliana. Um dos artigos do livro traz a narrativa das experiências do Urban 95 em Boa Vista (RO).
O livro faz parte das atividades do Núcleo de Pesquisa em Cidade, Gênero e Infância, e buscou identificar experiências de intervenção em territórios urbanos socialmente vulneráveis que levassem em conta as mulheres e ou crianças. O dado de que 85% das pessoas que cuidam de crianças mais novas são do sexo feminino, inadequadamente reconhecido no planejamento e promoção de políticas públicas, levou os organizadores à constatação: se as condições de vida dessas mulheres são prejudicadas, as das crianças de quem cuidam também serão afetadas.
Lindamente ilustrado com desenhos de crianças e fotos dos territórios, o livro resgata a memória de projetos potentes social e culturalmente, e possibilita reflexões que todos os adultos, de qualquer área, deveriam ter em mente, pois são ideias para o presente e pelo futuro de uma cidade, de um país, de uma nação próspera.
Composto por artigos de especialistas de diversas áreas, referências em questões relacionadas a gênero, infância e direitos, a obra lança olhares sobre as inúmeras possibilidades do brincar na formação do cidadão conectado à cidade, “para que seja possível romper o ciclo da desigualdade e das condições de vulnerabilidade, e o investimento na primeira infância seja ferramenta essencial e prioritária para o desenvolvimento das cidades”.