Crianças e adolescentes do Centro Integrado de Atendimento à Criança e ao Adolescente (CIAC-Ondina) e do Núcleo de Apoio ao Combate do Câncer Infantil (NACCI) estiveram no espaço Xisto (Salvador – Ba), no último dia 29 (outubro), para participar do debate: Imaginação e ludicidade como caminhos de resistência à adultização. O público dialogou com Ana Oliva, psicóloga e consultora associada Avante – Educação e Mobilização Social, responsável, na instituição, por diversos projetos voltados ao fomento à participação infantil e garantia dos direitos das crianças, e João Lima, palhaço, ator e diretor teatral no Espaço Xisto. O encontro foi promovido pelo Festival Xistinho, Arte, Brincadeira e Traquinagem e na ocasião as crianças também assistiram ao espetáculo de palhaços Vira Lona, Lona Vira.
O bate-papo entre Ana Oliva, João Lima e as crianças foi mediado por Isabela Silveira, coordenadora do Espaço Xisto Bahia e idealizadora do projeto. As trocas de ideias começaram com uma explicação de Ana Oliva sobre a atuação da Avante na luta pelo envolvimento e comprometimento do poder público nas ações voltadas para Primeira Infância e em prol da participação das crianças na conquista e garantia dos seus direitos.
Criança sujeito de direitos
“Vocês sabem quais são os direitos e deveres das crianças?”, perguntou a consultora da Avante à cerca de 40 crianças que integravam a plateia. “Se sua mãe manda você ir ao banheiro, você tem o dever de ir porque é necessário respeitar os mais velhos”, respondeu M.S., 8 anos do CIAC. Ana concordou com M.S, mas também explicou que, “por outro lado, se você estiver apertado para ir ao banheiro, você tem o direito de ir”. Então, outra criança do CIAC interveio para dizer que o dever de casa da escola, é um dever da criança.
A conversa, que iniciou com exemplos do cotidiano, enveredou pelos direitos garantidos no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). A plateia ouviu e falou sobre o artigo 4 do ECA, que afirma ser “ dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária”, e o Art. 16 que determina o direito das crianças e adolescente de “brincar, praticar esportes e divertir-se, e explica que o trabalho dela é garantir que esses direitos sejam efetivados.
“É um dever da criança estudar e um direito brincar”, disse E.J, de 8 anos. “É melhor brincar na rua que em casa”, complementou A.P, de 8 anos. A deixa foi a oportunidade para que Ana Oliva falasse sobre o direito à ocupação do espaço público e que a praça onde elas brincam é de responsabilidade do poder público. A consultora da Avante explicou, então, que o trabalho ao qual ela e muitas outras pessoas vêm se dedicando visa garantir que estes espaços existam e estejam adequados para uso das crianças.
O lúdico
“O lúdico é tudo que está ligado à imaginação, quando vamos crescendo a imaginação vai diminuindo”, disse a coordenadora geral do Espaço Xisto, Isabela Silveira às crianças e adolescentes de baixa renda, estudantes de escolas públicas, em situação de risco, e à crianças que enfrentam o desafio do câncer que estiveram presentes ao debate. “Aproveitem para ser criança, façam coisas de crianças”, disse João Lima ao explicar a elas que o mais importante de tudo isso é que tenham garantido o direito de ser criança.
Após o bate papo, as crianças assistiram ao espetáculo Vira Lona, Lona Vira, dirigido João Lima, que fala sobre seres imaginários, brincalhões e divertidos, que estão sempre procurando alguém para sonhar. No espetáculo tudo vira um jogo que mistura realidade e sonho, que se funde e se confunde. “O circo é o espaço onde todos que entram se tornam crianças, acredito que quando realizo um espetáculo de circo a intenção é que todos se permitam ser crianças”, disse João Lima que em suas aventuras lúdicas encarna o palhaço Tiziu em um outro espetáculo – O Circo de um Homem Só.
Festival Xistinho
Em sua terceira edição, o evento oferece uma programação ainda mais rica com dança e música, além dos espetáculos de teatro que marcaram as edições anteriores. O projeto tem como principal objetivo o desenvolvimento de atividades de fruição, formação e reflexão para crianças de um a 12 anos. Este ano, o Festival abrange ações que envolvem instituições de ensino, profissionais de educação, famílias e artistas de diversas áreas, a fim de fortalecer o sentimento de cidadania, autoestima e pertencimento do público participante.
“A programação do Festival Xistinho é pensada de modo a reforçar a arte como ferramenta de desenvolvimento humano e de uma cidadania cultural plena. Há também um consistente trabalho de mobilização de pessoas de realidades diferentes, a fim de fortalecer o teatro como espaço de convivência de sujeitos diversos”, avalia Isabela Silveira, coordenadora do Espaço Xisto Bahia e idealizadora do projeto.
Isabela conta também que o Xistinho se tornou um espaço público positivo, onde as crianças podem ter acesso a arte e podem se expressar e falar o que pensam. Nessa terceira edição o Espaço Xisto recebeu, em média, 100 crianças por sessão.