“Toda obra de arte é filha do seu tempo e, muitas vezes, a mãe dos nossos sentimentos.” A frase do artista russo Wassily Kandinsky (1866-1944), que abre o caderno de experiências Assim se Faz Arte do projeto Paralapracá, ilustra com poesia o que um grupo de professoras experimentou em uma das formações em 2015 do projeto.
O cenário é o bairro potiguar de Felipe Camarão, por um lado conhecido por ser um local pobre e violento e, por outro, com uma expressão cultural riquíssima. Nas ruas de Felipe Camarão, o auto do Boi de Reis, o teatro de bonecos, a música e a capoeira convivem harmoniosamente. É lá também que fica o Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) Irmã Dulce, uma das escolas da rede municipal de Natal que implementam o projeto Paralapracá.
Na formação do Paralapracá dedicada às artes visuais, as coordenadoras pedagógicas Evely Barros Paes e Kátia dos Anjos resolveram levar para a escola um artista plástico da comunidade: Adonias Assunção. A arte de Adonias está muito associada ao bairro, pois é lá que o artista mora e trabalha. As educadoras viram ali uma oportunidade não só de valorizar a arte local, como também de apreciar com as professoras do CMEI obras filhas de seu tempo e de seu contexto.
“Antes da formação, apresentamos telas de vários artistas para as professoras, e elas se encantaram com uma obra de Adonias”, relembra Evely. A coordenadora aproveitou a oportunidade e perguntou às professoras se elas conheciam o artista, mas a maioria só o conhecia de nome. Para apresentar Adonias e sua arte às professoras, ele então foi convidado a conduzir a formação dedicada às artes visuais.
As professoras pensaram que ele ia ensiná-las a desenhar, conta Kátia, mas a oficina que Adonias desenvolveu no CMEI não passou nem perto disso. “Adonias conversou com as professoras, que viram a paixão dele pela arte. Ele se apresentou e mostrou suas obras. Explicou e dialogou com as professoras sobre várias de suas telas”, assinala Evely.
Além da apresentação, as professoras se dividiram em grupos para pintar obras de arte coletivas. A atividade partiu de dois desenhos abstratos de Adonias parecidos com garatujas, em um processo criativo orientado e acompanhado pelo artista.
“No início, ao olhar para o desenho de garatujas aleatórias, os grupos afirmaram encontrar dificuldades em iniciar os desenhos. Mas, quando começaram a dar formas aos traçados, as ideias foram surgindo e cada pedacinho foi preenchido com dicas, sugestões e observações de cada componente do grupo”, relata Evely no registro da prática, que postou no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) do projeto Paralapracá.
Segundo a coordenadora, o trabalho a partir de garatujas ajudou as professoras a pensar em sua ação com as crianças pequenas e em seus desenhos. A formação também contribuiu para a valorização da arte local — entre as professoras e, em um segundo momento, entre as crianças, que também tiveram contato com a arte de Adonias. Para completar, o artista deixou de presente para o CMEI um grande painel, pintado em uma parede que parecia sem vida no fundo da escola.
Fonte: site do Paralapracá