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A mobilização pela educação precisa ser mais forte que o governo Bolsonaro

“Os principais movimentos do governo tratam os problemas da educação no Brasil como meramente ideológicos ou metodológicos”.


(Publicado no Huffpost, 27/03/2019)
Por: Maria Thereza Marcilio, educadora e presidente da Avante – Educação e Mobilização Social
Os primeiros meses do governo Bolsonaro não têm sido nada alentador para nós, educadores. Da indicação para os cargos no MEC – Ministério da Educação –  às perspectivas de mudanças de políticas públicas, o que está por vir certamente vai requerer esforços da sociedade civil e da população para barrar a maior ameaça de retrocesso que vislumbramos em décadas.

O governo Bolsonaro trouxe à tona um projeto grotesco e perverso que está amparado no que o Brasil tem de pior: o elitismo, a discriminação e o egoísmo para manutenção das desigualdades sociais.
Os principais movimentos do governo nestes primeiros meses tratam os problemas da educação no Brasil como meramente ideológicos ou metodológicos, uma discussão extremamente ultrapassada e ignorante da História e dos desafios da escola pública.

Apesar de voltar atrás na decisão, a carta enviada pelo MEC às escolas com o pedido de filmagem dos alunos durante a execução do hino nacional soa como uma distração do que realmente importa: uma cortina de fumaça perante os reais problemas que precisam envolver toda a comunidade escolar.
Esta iniciativa revela o profundo desconhecimento do funcionamento da educação pública, do que está pactuado e legislado, desrespeitando artigos da Constituição, do Estatuto da Criança e do Adolescente, atropelando o pacto federativo e desmoralizando inclusive o papel do Ministério.

E assim tem sido com outros temas.

O posicionamento do Ministério da Educação de definir como principal problema da alfabetização no país uma metodologia e eleger um método – o método fônico – como a solução, sinaliza um desrespeito e um desmonte de todo o arcabouço teórico e prático que veio se acumulando ao longo de décadas de discussão na academia e no ativismo pela educação em geral.

A alfabetização precisa ser vista não só como uma decodificação, e a leitura e a escrita, como muito mais do que resultados mecânicos – e sim como aquisição cultural e social, que dialoga com a realidade do estudante e, por isso, diversos métodos são bem-vindos.

O projeto de governo Bolsonaro para a educação parece querer esvaziar a cidadania. O objetivo da escola não é meramente a formação de mão de obra, mas sim cidadãos conscientes de seus deveres e direitos. Muito se avançou nesta área nas últimas décadas, especialmente nos últimos 20 anos.
Desde então, houve conquistas fundamentais, como o crescimento do acesso à escola, a garantia do financiamento público, o estabelecimento de leis, diretrizes e parâmetros que são referência para educadores do mundo todo.

Ao reduzir o problema da educação brasileira a uma conspiração marxista que afronta a moral e os bons costumes, o governo desfoca a atenção do que realmente importa para qualidade do ensino público: a qualificação dos professores, a valorização destes docentes, a diversidade de realidades que precisam ser abarcadas na rotina escolar e a laicidade do ensino.

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