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Infâncias em Rede e crianças do Calabar fazem intercâmbio no Rio de Janeiro

Um dos objetivos do projeto Infâncias em Rede, como o nome sugere, é estabelecer uma rede de comunicação entre as crianças do Calabar, em Salvador, e de seus pares no Rio de Janeiro, que fazem parte de projeto Rede + Criança, da Fundação Xuxa Meneghel. No final de 2014, as crianças cariocas vieram para Salvador, visitaram o Calabar por dois dias, trocaram informações que influenciaram na continuidade das ações das crianças soteropolitanas. Em dezembro passado, as crianças do projeto implementado pela Avante-Educação e Mobilização Social retribuíram a visita e deram continuidade a umas das atividades do Infâncias em Rede, o intercâmbio Rio-Bahia.  Foram três dias, entre 14 e 16 de dezembro, de muita aprendizagem, participação social e, claro, diversão.

Para a consultora associada da Avante e coordenadora do Infâncias em Rede, Ana Oliva, o intercâmbio é “uma oportunidade de quebrar as barreiras intangíveis da realidade, aquelas que segregam diferenças socioeconômicas, diferentes realidades culturais e étnicas”.  Ela lembra que o os meninos e meninas do Calabar já haviam passado por experiências parecidas. “Fizemos um intercâmbio com uma galerinha do Rio vermelho, que tem um maior poder aquisitivo. Mas dessa vez foi muito mais impactante porque tudo era diferente”, acrescenta.

Segundo ela, os meninos demonstraram estar vivenciando outra realidade. “Falavam das calçadas, das casas que parecem castelos, do bondinho. Eles não sabiam da existência de um teleférico. Olhar para tudo isso é parte de uma troca cultural, que superou a dimensão de espaço e alcançou a das relações. Eles conviveram com crianças de cultura diferente e até a relação conosco, seus educadores, atingiu um outro nível de confiança”, conta.

Luane Nascimento, 11 anos, foi umas das crianças do Calabar que viajou de avião pela primeira vez e teve a oportunidade de conhecer o Rio de Janeiro. “Entre todas as coisas que vivi no projeto foi uma das que mais gostei”, disse, colocando a viagem no mesmo patamar da gravação em estúdio do jingle “Menino Bernardo”, parte da campanha de combate à violência contra as crianças, desenvolvida por ela e seus colegas de projeto.

Foram muitos os motivos, segundo ela, para ter sido uma atividade inesquecível. “Gostei de conhecer pessoas novas, de ter participado da passeata dos meninos do Rio, foi a primeira vez que participei de uma. O trabalho deles é muito bom e eles são bem educados e serviram de exemplo para nós. Achei bonita a APA das Brisas, que tem mangue. Trago no meu coração amigos novos”, explicou Luane Nascimento.

Inspiração

As crianças cariocas convidaram os baianos para a visita durante uma videoconferência realizada no mês de novembro de 2015, outra ação do intercâmbio Rio-Bahia.  O principal argumento do convite, além de retribuir a visita que eles fizeram a Salvador, no final de 2014, foi para que os meninos e meninas do Calabar participassem da inauguração de uma placa que estava sendo confeccionada como parte de seus trabalhos de participação social cujo objetivo é a preservação da APA das Brisas, um espaço próximo de onde vivem.

O intercâmbio mostrou-se frutífero desde os primeiros momentos, principalmente quando os meninos cariocas estiveram no Calabar. “Eles compartilharam o trabalho que fazem com as técnicas do pé de feijão e da teia da vida, trabalho de construção de um olhar das crianças sobre a realidade e de propostas de melhoria dos espaços onde elas vivem (e que deu inicio à sua luta pela preservação da APA das Brisas)”, conta Ana Oliva.

Foi a partir dessa experiência que as crianças do Infâncias em Rede iniciaram seu trabalho em 2015 e trouxeram a necessidade de melhoria na situação de violência na comunidade e de uma qualificação dos espaços de convivência para crianças no Calabar”, conta Ana Oliva. Esta última demanda já estava sendo trabalhada e tendo como resultado de mutirões das crianças a recuperação de duas praças.

Com a demanda de trabalhar o tema da violência no Calabar, os educadores debateram com os meninos e meninas do projeto e alguns produtos surgiram dessa ação. Uma peça de teatro falando da Lei Menino Bernardo acabou por se transformar em um jingle, cuja letra, assim como a peça, foi escrita pelas próprias crianças. A gravação foi no estúdio Attitude, no bairro do Rio Vermelho, e um clip da música foi realizado pela produtora Primitivo.

Os debates sobre o tema também levaram as crianças do Calabar a fazerem parte de uma campanha mundial contra a violência doméstica, sendo os atores do vídeo Bata na Porta, uma parceria do projeto com a produtora COMOVA. Com duas semanas no YouTube, o vídeo alcançou a marca de 10 mil visualizações.

A história de sua luta de combate à violência contra as crianças, que superou as fronteiras do Calabar, foi contada para os meninos da Fundação Xuxa, durante o intercâmbio. Além disso, a experiência com produção de foto e vídeo foi compartilhada a partir de oficinas durante a visita, realizada pela produtora COMOVA. Segundo a psicóloga Fernanda Pondé, que faz parte do grupo de educadores do Infâncias em Rede, o intercâmbio produziu muitas respostas positivas nas crianças do Projeto.

“Foi uma experiência única. Os meninos de lá demonstraram um preparo que eles ainda não têm, mas que estão aprendendo a ter e perceberam que podem se melhorar. Na volta, eles já apresentavam outra atitude em relação às atividades que fazíamos normalmente. Numa delas, sonhávamos coisas para o futuro e eles pareciam mais firmes na crença de que seus desejos podem vir a acontecer realmente. Essa etapa final do Infâncias em Rede fez eles enxergarem que o que se pensa é possível de se realizar, o que destoa, positivamente, da realidade do lugar onde vivem, muita dura para ser pensada diferente. Produzimos esperança”, disse.

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