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Uma abordagem para o rabisco nas paredes: uma história de um líder pela primeira infância

O mexicano Ivan Galindo Herrera é um Global Leader desde 2007, sendo, hoje, coordenador da edição 2014-2015, do grupo de pessoas que advogam pela infância na América do Norte. É também gestor da escola mexicana Erik Erikson, oferecendo desde Educação Infantil até o Ensino Fundamental. Ele esteve presente no Seminário Global Leaders das Américas, realizado pela Avante – Educação e Mobilização Social, em Salvador, em setembro.

Durante o evento, houve um momento em que os mais experientes do grupo formado por representantes de oito países (alguns presentes por vídeo conferência) estavam contando suas experiências, algumas com mais de uma década de atuação, no programa Global Leaders, do World Forum. Chegou a vez de Ivan. E ele, saindo um pouco da linha de apresentação de seus colegas, resolveu contar uma história ocorrida no contexto da educação formal, que reúne, na prática, diferentes aspectos do que se havia debatido sobre diretos das crianças e educação infantil de qualidade durante o evento, até aquele momento.

A escola de Ivan é reconhecidamente bem estruturada e limpa; paredes e mobília representam bem a qualidade da educação ofertada por ela; não havia “marcas de travessuras”. Contudo, um dia, seu assistente, Antônio, lhe chegou com uma novidade. Alguém dos anos mais adiantados, havia riscado a parede do banheiro; duas iniciais unidas por um sinal (provavelmente um sinal de somar, representando uma ligação afetiva mais forte entre dois estudantes). Ivan esperou que seu assistente se acalmasse, depois de contar apressadamente seu plano de atuação, que incluía encontrar os meninos e, é claro, puni-los. “Pelas iniciais é possível”, ponderou Antônio.

Agora, com o assistente em condição de escutar, Ivan perguntou, mesmo depois de ouvir a narrativa do fato inusitado: qual era o problema? O que realmente aconteceu, Antônio? Este não conseguia dar uma resposta diferente daquela que seguia a ideia de que algo errado foi feito, uma travessura, e de que era necessário ensinar aos meninos que coisas como essas não podem se repetir. “Não, este não é o problema”, respondia calmamente o diretor da escola, a cada resposta do seu assistente.

“Você quer saber o que aconteceu, Antônio?” Com a pergunta, Ivan preparou para fazer o que mais gosta; formar pessoas para cada vez mais acolherem melhor a infância, exercendo, a uma só vez, o papel de gestor de uma instituição de ensino e de Global Leader.  “Pois, preste atenção. O problema não é o que eles fizeram, mas o que eles querem dizer com o que fizeram”. Outra resposta foi necessária para concluir o conceito para um Antônio que se iluminava à medida que compreendia o que Ivan lhe ensinava. “O que eles querem dizer é que estão ávidos por se expressar”.

Parte da ideia de Antônio, contudo, foi aproveitada e se descobriu de que turma saiu o, antes, aluno indisciplinado, e agora alguém que representa um desejo, uma necessidade dos meninos e meninas da escola. Ivan e Antônio foram até eles com a determinação de pôr ordem na casa.

“Riscaram o banheiro…”. O silêncio tomou conta das turmas. “Temos que tomar uma providência. Nós vamos colocar cartolinas nas paredes dos banheiros e em outras partes da escola, onde vocês poderão escrever o que sentem vontade”, disse para uma plateia perplexa.

Desde então, os murais disponíveis se transformaram em uma janela para a criatividade dos alunos, e nenhum outro rabisco foi feito nas limpas paredes da escola. Mas a riqueza da abordagem diferenciada que aplicou Ivan a um problema enfrentado por muitas escolas mundo afora, não para por aí. Ele aproveitou para implicar os estudantes.

“Vocês têm uma escola bem cuidada, inclusive o banheiro que está sempre limpo. Vocês gostam disso?”, perguntou. Diante da afirmação unanime dos alunos, Ivan disse: “pois vocês podem auxiliar a mantê-la limpa, do jeito que tanto vocês gostam. Vão aos estudantes mais novos e expliquem isso para eles, e lhes digam que, caso eles sintam vontade de dizer algo por meio da escrita ou de desenhos, que existe um espaço livre para isso”. Ivan encontrou nos alunos grandes multiplicadores, que além de se sentirem livres para se expressar, também ensinam os mais jovens a manter limpas as paredes da escola.

Entre eles, estão os responsáveis pelas iniciais escritas na parede do banheiro. Mas seus nomes não foram citados, nem para quem escreve esta estória, nem para ninguém mais. Nem eles ficaram sabendo que a autoria do rabisco foi descoberta. Para Ivan, eles não eram culpados de nada e não precisavam de castigo. Eles precisavam ser compreendidos na sua maneira infantil de se comunicar. E foram.

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