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#EmiliaFerreiroPresente!

Ao rememorar a imagem física de Emilia Ferreiro é inevitável não lembrar da sua longa trança repousada sempre ao lado esquerdo do ombro. Não sabemos a simbologia dessa marca pessoal para ela, mas podemos intuir que, sendo a trança um símbolo de resistência, luta, cultura e identidade, era uma expressão material da conexão entre o que Emilia carregava em seus pensamentos e ideais e o que movia seus sentimentos, emoções e, principalmente, ações.Psicóloga e pedagoga argentina, doutora pela Universidade de Genebra, sob a orientação de Jean Piaget, Emilia revolucionou o pensamento sobre a alfabetização infantil. Grande parte de seus estudos foi desenvolvida na Cidade do México, para onde a educadora fugiu, em 1976, com o marido, o físico e epistemólogo Rolando García, durante a última ditadura militar argentina. Com ele, teve dois filhos e sempre manteve sua vida pessoal fora de exposições.

Sua tese, “Las relaciones temporales en el lenguaje del niño” (“Relações temporais na linguagem da criança”) é considerada um marco para a compreensão do processo de alfabetização de crianças. Desde a sua produção, Emilia deixava claro que se recusava a delegar “o fracasso” de um processo educativo à criança, pois, para ela, o/a professor/a deveria assumir a certeza de que todos/as alunas/os vão aprender e que não se pode encerrá-los em tipologias ou preconceitos. 

Tivemos a grande honra de estar com ela em 1999, na Central de Cursos, uma ação da #OscAvante, que conectava o público baiano com especialistas em educação de renome nacional e internacional. Desde aquela época a #OscAvante defendia uma #alfabetização processual, contextualizada e que respeitasse as linguagens da criança.

Foram realizados seminários abertos, reunindo cerca de 1.000 a 1.500 pessoas, para discutir questões que, na época, eram extremamente polêmicas e inovadoras para o país, como a concepção do conhecimento da leitura e da escrita como um processo individual, embora aberto à interação social, na escola ou fora dela. 

A presidente da Avante, Maria Thereza Marcílio, escreveu um depoimento emocionado quando tomou conhecimento da sua morte, no último dia 26 de agosto. Sobre a influência de Emilia em sua formação, escreveu: “entre as grandes figuras mestras da minha formação, Emilia Ferreiro ocupa lugar de destaque! Conheci sua pesquisa – divulgada como a psicogênese da língua escrita – no início da década de 80 e foi como uma epifania! Entender o processo pelo qual as crianças se aproximam e constroem a compreensão deste objeto tão potente que é a escrita, abriu um universo de questões e possibilidades para mim e para a minha atividade profissional. Da formação de professores para o trabalho com crianças durante esse processo, às práticas diárias nas escolas, aos livros e à organização da rotina, até as decisões sobre o quê e como avaliar no processo, o lugar do erro, enfim tudo foi afetado pelo que ela produziu, elaborou e divulgou. Desde então, os livros publicados por ela, a participação em Congressos, seminários, reuniões, debates em que ela esteve fazem parte do meu repertório de estudo e de trabalho! Integrei a Rede de Alfabetização que ela criou na década de 90, assumindo a coordenação do nó da Bahia e hoje me integro a #RedLatinoamericanadeAlfabetización, formada esse ano com pesquisadoras, professoras e formadoras da América Latina para difusão e expansão do conhecimento, dos princípios e práticas construídos a partir do trabalho dela. Que honremos esse legado e a memória dessa grande mulher pesquisadora! Emilia Ferreiro presente!”.

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