Balcão é o nome fantasia de uma tecnologia social desenvolvida pela Avante – Educação e Mobilização Social que merece um capítulo especial nos #20anosAvante. A proposta envolve atendimento às demandas sociais, psíquicas e biológicas da comunidade e é desenvolvida em duas etapas: mapeamento e apoio no acesso a diversos tipos de serviços como: saúde, educação, inserção profissional, cultura e lazer, por meio da consolidação de parcerias com a rede de serviços e atendimentos disponíveis na cidade.
O Balcão é uma proposta dialógica, que ganha contornos prioritários de acordo com a demanda mapeada. A ideia primordial é levar atendimento psicossocial para as populações de baixa renda. “O psíquico acaba ficando sempre em segundo plano nas prioridades das pessoas, e sabemos que ele vai influenciar tanto na educação, quanto na saúde, quanto no bem estar geral. A proposta do Balcão está ligada a essa ideia de levar atendimento psicológico de qualidade para uma população que não tem acesso”, conta Ana Marcilio, psicóloga e consultora associada da Avante.
A primeira etapa é característica da assistência social, que identifica as principais necessidades do público alvo e seu entorno (familiares e comunidade em geral). A segunda é alçada da psicologia, desenvolvida por meio de Grupos Operativos (Pichon-Rivière). A princípio, a tecnologia social da Avante foi desenvolvida vinculada a ações de outros projetos como o Consórcio Social da Juventude, Viva Jovem e Convivência e Segurança. Mas foi numa atuação autônoma que o Balcão mostrou toda a sua potência em impactar na realidade do público alvo e seu torno, ao ser implementado de forma independente, no Calabar.
Balcão da Juventude
No Consórcio Social da Juventude, a ação se destacou como um diferencial local na proposta do Programa Nacional do então Ministério do Trabalho e Emprego (MTE – hoje Ministério do Trabalho e Previdência Social), Voltado para o primeiro emprego. A iniciativa teve a Avante como entidade âncora para atender a demanda em Salvador e Região Metropolitana. A instituição coordenou uma rede formada por cerca de 54 organizações da sociedade civil para atender a um público na faixa etária de 16 a 24 anos, que teve representatividade, inclusive, na gestão da iniciativa.
Dentro do Consórcio foi criado um espaço cultural e formativo para a juventude chamado Estação da Juventude. Lá o Balcão foi implementado para atender meninos e meninas que vivem o desafio da inserção no mundo do trabalho e lidam com os conflitos naturais da adolescência como: sexualidade, uso de drogas e exposição à violência, potencializados na população de baixa renda. Por isso ficou conhecido como Balcão da Juventude.
Nesse contexto, o Balcão foi um elemento informativo e interativo de escuta e acolhimento, construído em/com instituições, projetos e programas que atendiam, prioritariamente a esse segmento, visando a favorecer o acesso dos integrantes do Consórcio e, ao mesmo tempo, fortalecer a rede social de apoio ao jovem. Foi por meio do Balcão que os jovens se inscreveram para participar de dois outros focos da ação: orientação para projeto de vida e grupos de jovens.
Apesar de voltado para jovens, o Balcão impactou em outros públicos na comunidade. “A proposta é de realizar um trabalho integrado. E não tem como trabalhar demanda do jovem sem envolver outros atores, pois, muitas vezes, essa demanda envolve a família e a comunidade”, conta Ivanna Castro, psicóloga e consultora associada da Avante.
Como o Consórcio, o Viva Jovem também foi voltado para o primeiro emprego. O projeto, realizado em duas edições, atendou a 500 jovens de 16 a 24 anos, moradores do Nordeste de Amaralina. Além de apoio psicossocial, o Balcão, aqui, ofereceu, ainda, identificação e fomento de espaços destinados à ampliação cultural e lazer.
No projeto Convivência e Segurança (2010/2012), desenvolvido por meio de parceria com a CONDER e SEDUR [Secretaria de Desenvolvimento Urbano da Bahia], a proposta dá mostras da sua capacidade de dialogar com o contexto e propostas dos parceiros, respeitando as demandas de cada grupo ou comunidade atendida.
O projeto tinha como objetivo oferecer assistência técnica à realização de atividades que estimulassem a convivência familiar e comunitária entre os indivíduos residentes no Cobre, Pau da Lima e Ribeira, em Salvador; e Mangabeira, no Município de Feira de Santana. Foram formados grupos socioeducativos; de convivência; de desenvolvimento / reflexão e atividades lúdico-desportivas; de lazer; oficinas de trabalhos manuais e oficina de contação de histórias que visaram o reforço da coesão social, a ratificação de códigos de convivência, a reflexão e o fomento à convivência qualificada intra e intergeracional.
Adolescentes, crianças, mulheres e lideranças foram impactados. “Como os escritórios locais da CODER/SEDUC já possuíam assistentes sociais em seu corpo de colaboradores, o que era algo muito maior do que o Balcão, geralmente executado por um único profissional, eles realizaram a primeira etapa, de mapeamento. A Avante entrou com a segunda etapa da tecnologia social, que são os grupos operativos”, conta Ana Marcilio, que coordenou a iniciativa.
Balcão Calabar
Mas foi na comunidade do Calabar que o Balcão mostrou o seu potencial em impactar a realidade e mobilizar o público. Durante dois anos (2008/2009), funcionando desvinculado de outros projetos, com financiamento do Instituto HSBC Solidariedade, Como em iniciativas anteriores, o foco foi a juventude e o primeiro emprego. Foram trabalhados conteúdos ligados a esse público, como: projeto de vida, sexualidade, violência e uso de drogas, além de orientação profissional. Somados aos grupos, aconteciam as ações de inserção no mundo do trabalho por meio de parcerias com empresas de recrutamento e seleção e escolas profissionalizantes.
O projeto Balcão Calabar, ao logo de dois anos de ação, conseguiu realizar grandes conquistas tanto para os jovens assistidos pelo Projeto, quanto para a comunidade do Calabar como um todo. No total, foram 71 plantões do Balcão realizados entre os anos de 2008 e 2009, beneficiando 350 jovens que passaram pelo atendimento psicossocial.
Foram captadas 904 vagas no mercado de trabalho e 771 encaminhamentos para seleção de trabalho e cursos profissionalizantes. Como fruto destes encaminhamentos, 106 jovens foram inseridos no mundo do trabalho. Além destes resultados, o Balcão promoveu algumas ações na comunidade de forma a atender demandas, como também dar uma visibilidade maior às ações e parcerias do Projeto, a exemplo da Feira de Saúde, Passeios culturais a cinema e teatro abertos à comunidade e oficinas temáticas.