Para entender a história é preciso resgatar o contexto de cada situação e, assim, chegar à relevância dos seus impactos. Com a trajetória da Avante – Educação e Mobilização Social não poderia ser diferente. O que levaria uma instituição e um Instituto renomado a investir em creches comunitárias, filantrópicas e confessionais, 17 anos atrás? Cerca de três anos após a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB 9394/96). Ano: 1999.
Na época, o atendimento em creches em Salvador ainda era muito assistencialista, com as instituições sob a responsabilidade da Legião Brasileira de Assistência (LBA), órgão vinculado à assistência social do governo federal, com representação no governo estadual. “Embora já existisse a LDB, as creches eram, ainda, predominantemente ligadas à área de assistência social, iniciando processo para trazer para a educação”, lembra Maria Thereza Marcilio, consultora associada fundadora da Avante.
Maria Thereza conta que “quem tentava enfrentar a demanda gerada pela necessidade das mães de trabalhar para sustentar os filhos eram as associações comunitárias. Em sua quase totalidade essas instituições não tinham pessoal formado, nem ambientes adequados. Mas eram a “salvação da lavoura” para quem precisava trabalhar”. O vínculo da grande maioria dessas creches com a área de educação era por meio de convênio. Enquanto as instituições que cuidavam das crianças de 0 a 3 anos entravam com o espaço e as crianças, a secretaria de educação era responsável pela merenda e pelos professores. E a história prosseguia assim.
Creche Saudável
Foi quando a Avante, depois de conhecer o projeto “A Creche Saudável”, iniciativa criada pelo Centro de Criação e Imagem Popular (CECIP) e pela Associação Brasileira de Creches (ASBRAC), com apoio do UNICEF, propôs ao Instituto C&A trazer a iniciativa para Salvador a fim de aprimorar os cuidados à saúde integral da criança soteropolitana na creche.
Até então, não havia nenhum órgão que articulasse Centros de Educação Infantil (CEI) comunitários e filantrópicos, ou que prestassem esse serviço. A meta era contribuir para que as creches se organizassem em uma associação, fortalecendo-as em seu poder de barganha com o governo para, assim, iniciar um processo de qualificação do atendimento às crianças de 0 a 3 anos. “O trabalho isolado as fragilizava junto aos órgãos públicos – era uma relação desigual. Além disso, o projeto veio qualificar a oferta, as pessoas e as condições de atendimento”, conta Maria Thereza.
O caminho: a formação dos profissionais que atuavam nas instituições (educadores e gestores), tanto para o atendimento qualificado, como para conhecer e saber lidar com as questões legais, inclusive.
Com esse espírito, no espaço de apenas um ano, ou seja, em 2000, a Associação de creches e pré-escolas comunitárias e filantrópicas de Salvador (ACREDITE) – foi fundada. “É importante dizer que para alcançar esse resultado, a Avante investiu em duas frentes de trabalho muito inovadoras à época”, conta Ana Luiza Buratto, consultora associada, e assim como Maria Thereza, fundadora da Avante. A primeira, coordenada pela própria Ana Luiza e por Salete Silva, consultora associada da Avante (1997 – 2004), voltava-se à mobilização e formação das creches, cujo foco foi o associativismo.
A segunda voltou-se à formação de voluntários do Instituto C&A em coordenação de grupos operativos, cujo objetivo era prepará-los para atuar na monitoria do acompanhamento das creches. Nesta formação, utilizando os fundamentos da Psicologia Social de Pichon Riviere, atuou, ao lado de Ana Luiza, Maria Célia Falcão, coordenadora do Setor Administrativo Financeiro da instituição até 2015.
À época da fundação da ACREDITE, Rose Bonfim, atual coordenadora do Fórum Baiano de Educação Infantil (FBEI) – instituição criada a partir de uma comissão articulada e organizada pela Avante em 2002, atendendo a um pedido do UNICEF -, era educadora de uma creche comunitária em Massaranduba e ficou alguns anos à frente da instituição. “Tudo que foi ensinado sobre Educação Infantil se apresentava para mim como se o mundo estivesse abrindo as cortinas do conhecimento. Senti uma empatia imediata e o forte desejo de ser tão competente quanto as consultoras que ali estavam”.
ACREDITE
Completando 16 anos de funcionamento em 2016, a Acredite tem como missão “integrar e fortalecer as instituições de educação infantil associadas, a fim de que possam contribuir para o desenvolvimento integral da criança”. Para a instituição, a formação dos educadores ainda é um dos caminhos para o aperfeiçoamento da prática pedagógica, para a melhoria da qualidade do atendimento e da aprendizagem das crianças de zero a cinco anos e 11 meses, bem como para a efetivação de um projeto sociopolítico e educativo adequado à Educação Infantil.
E assim, a ACREDITE segue oferecendo, gratuitamente, formação contínua aos educadores, contribuindo para a qualificação e a profissionalização daqueles que atuam na educação infantil em creches e pré-escolas comunitárias e filantrópicas que integram associação.
O apoio prestado pela ACREDITE aos CEI associados está focado também na sua estruturação organizacional para fortalecimento das instituições. Os CEI atendidos atualmente estão situados no Subúrbio Ferroviário, Cidade Baixa, Nordeste de Amaralina, Brotas, Joana Angélica, Cajazeiras, Sussuarana, Boca do Rio e Stiep, todos bairros da cidade de Salvador (BA).
AVANTE e a Educação Infantil
Ainda hoje a Avante continua com os olhos e o coração voltados para a primeira infância. Além de fazer parte da Rede Nacional Primeira Infância (RNPI), integrando o grupo gestor e vários Grupos de Trabalho, a exemplo dos grupos de Participação Infantil, Educação Infantil e Planos Municipais pela Primeira Infância, muitos de seus projetos são também voltados para esse segmento da educação.
Agora, com o atendimento em creches e pré-escolas sob responsabilidade da educação, a instituição trabalha junto às redes municipais, colaborando com a construção de currículo, com a formação dos educadores e na produção de material de qualidade. Entre os projetos mais recentes merecem destaque o Nossa Rede Educação Infantil e o Paralapracá.
A tecnologia social deste último, o Paralapracá, desenvolvida a partir da parceria técnica com o Instituto C&A, rendeu à instituição o notório saber na formação continuada de profissionais de Educação Infantil ao integrar o Guia de Tecnologias Educacionais do Ministério da Educação (MEC), em 2015.