Ser jovem no Brasil tem sido um desafio marcado pela exclusão de diversas naturezas, cuja base da pirâmide é a ausência ou má qualidade da educação – 1,7 milhões de adolescentes entre 15 e 17 anos de idade não estão matriculados e, desses, a maioria é negra e pobre. Os dados do Observatório do Plano Nacional da Educação (PNE) – IBGE/Pnad e Todos pela Educação são atuais, mas traduzem uma dívida histórica, pois sem ela [a educação] temos uma juventude sem oportunidade, sem preparo e inexperiente para conquistar o primeiro emprego, transformando em bola de neve as injustiças sociais. Por essa razão, essa realidade foi foco do governo federal no início da década de 2000, com o Programa Primeiro Emprego.
Presença ativa e constante nos últimos 20 anos de história do Brasil, lá estava ela, mais uma vez – a Avante – Educação e Mobilização Social, contribuindo para a formação do cidadão, visando a garantia dos direitos sociais básicos e ao fortalecimento da sociedade civil.
Por entender que educação e trabalho são as bases para uma vida digna, direito de qualquer cidadão, a instituição participou ativamente de diversas ações federais e estaduais de geração de mais e melhores oportunidades para a juventude brasileira. Foi executora do projeto Viva Jovem (2005 – 2006), instituição âncora do Consórcio Social da Juventude (2004 – 2007) e realizadora do Juventude Cidadã. Os dois últimos motivados pelo programa Primeiro Emprego, do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
Para o Juventude Cidadã, o MTE irrigou recursos para várias capitais do país como forma de qualificar os jovens para se inserirem no mundo do trabalho. Na Bahia, o Ministério celebrou convênio com a Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (SETRE), dando origem à iniciativa. “A SETRE executou o Juventude Cidadã em diferentes municípios do Estado da Bahia. A Avante se inscreveu no edital para formar jovens da capital e formou, social e profissionalmente, 700 jovens de baixa renda, com inserção no mundo do trabalho”, conta Fabiane Brazileiro, então consultora associada da Avante e coordenadora do projeto.
“A Avante tem essa capacidade de gerar formadores de opiniões, seres humanos não apenas qualificados para o mercado de trabalho, mas qualificados para a vida, conscientes dos seus direitos e deveres e do seu papel na Sociedade”, disse Luciene Pereira, 29 anos, que participou de dois projetos da instituição, o Juventude Cidadã, com 20 anos e um pouco antes, do Viva Jovem, com 17.
Luciene hoje trabalha como porteira líder pela empresa Escolta Vip. No Juventude Cidadã ela integrou a turma de formação de turismo com ênfase em hotelaria. “Foi através da Avante que consegui meu primeiro emprego de carteira assinada. E além do emprego, foi na Avante que descobri a arte de escrever poesias”, conta. E complementa: “O que me vem primeiro à memória quando falamos da Avante é uma bussola. Foi a direção para a minha preparação pessoal e profissional”.
Formando valores
O Juventude Cidadã atendeu jovens de famílias com renda mensal per capita de até meio salário mínimo, matriculados na educação básica regular da rede pública ou na modalidade de Educação de Jovens e Adultos (EJA) ou com o Ensino Médio concluído. Ao final do processo, buscou-se garantir a inserção no mundo do trabalho de pelo menos 30% dos jovens que concluíssem o projeto.
Em termos práticos, foram oferecidas formações em auxiliar administrativo/escritório; arquivador e almoxarife; recepcionista de consultório dentário; atendente em farmácia; turismo com ênfase em hotelaria /meio ambiente. Mas, por considerar que uma qualificação social e profissional deve responder às necessidades de conhecimento, autonomia, cooperação, iniciativa, solidariedade, leitura crítica da realidade e aprendizagem contínua, a Avante buscou aliar a formação de um sujeito que saiba interagir e controlar as novas tecnologias e, ao mesmo tempo, assumir a sua condição de cidadão consciente de seu potencial e de seu papel na sociedade. “Nas formações eram discutidos valores, desenvolvidas habilidades e oportunizados conhecimentos que proporcionavam condições que permitissem aos jovens participar de um mundo mais complexo e desafiador”, conta Fabiane.
E para inseri-los na sociedade, ou no mundo do trabalho, é preciso, no mínimo, domínio de leitura, de escrita, qualificação profissional, proatividade, postura crítica e atitude protagonista frente ao contexto que está inserido. A coordenadora do projeto na época ressalta que, “construir este perfil é a difícil tarefa da maioria dos jovens brasileiros, oriundos de classe social que não tem acesso à escola de qualidade, a bens culturais, etc. As dificuldades enfrentadas geram baixa auto estima e pouca ou nenhuma perspectiva de futuro que seja menos sofrida do que o presente”.
Foi então que o projeto proporcionou discussões sobre temas como: direitos humanos; diversidade étnica; construção do conceito de cidadania; bases legais da cidadania; história do trabalho; divisão social do trabalho, considerando classe socioeconômica, gênero e etnia; sexo e gênero/sexualidade e gênero, para citar algumas. E colocado para esses jovens, a necessidade de uma atitude política; desenvolvimento de habilidades cognitivas; da autonomia, da criatividade, da iniciativa; e incorporação de valores e atitudes como solidariedade, respeito, diálogo, responsabilidade, iniciativa, ação coletiva, que contribuem para a construção de relações que valorizam o ser humano integral.