Agradecemos a sua receptividade ao convite para leitura deste relatório institucional da Avante – Educação e Mobilização Social. Ao longo das próximas páginas, trazemos informações sobre as ações desenvolvidas no biênio (2020 – 2021), bem como seus resultados e impactos. Nossa intenção é oferecer transparência a todos aqueles que vêm nos acompanhando ao longo da nossa jornada enquanto caminhamos em direção à concretização da nossa Missão.
Iniciamos destacando que estes foram dois anos de desafios extras, pois fomos todos assolados por uma pandemia, com consequências diversas para todas as áreas – pessoal, organizacional, laboral, educacional, emocional, na saúde, na economia, na cultura e até mesmo nos parâmetros éticos, em amplitude global. Mas, por outro lado, foi também um período de muitas aprendizagens e conquistas. Cá pra nós, atravessar este capítulo tão complexo da nossa história exigiu de todos ainda mais dedicação e busca pelo potencial existente, adormecido e, muitas vezes, invisibilizado, em cada nova situação.
Assim, assumimos um slogan que se popularizou entre os defensores da democracia e dos direitos no pós eleição de 2018 – “ninguém larga a mão de ninguém”. Apesar do distanciamento físico imposto pela pandemia do Covid-19, nos mobilizamos no sentido de reafirmar e fortalecer parcerias, replanejar ações, intensificar a escuta ativa das comunidades com as quais estávamos conectados em todo o país e promover as mudanças necessárias para, ainda mais do que antes, oferecer um suporte que, em muitos momentos, ultrapassou as fronteiras formativas para encontrar o olho no olho e a escuta amiga. Assim, fortalecemos a busca por uma educação de qualidade para todos e intensificamos as articulações e mobilizações para que direitos conquistados não fossem usurpados. Sempre com acolhimento, colaboração, muita resiliência, e resistência.
Nos pusemos lado a lado com profissionais da educação e movimentos sociais para ajudar a transformar um momento que, a princípio, impunha muitas perdas pessoais e profissionais. Optamos, mesmo em situações tão adversas, focar na promoção de oportunidades de crescimento, de formação contínua, de reflexão das práticas. Pactuamos e repactuamos com parceiros para que os direitos das crianças fossem considerados, garantidos e conquistados num momento de grandes ameaças ao seu desenvolvimento integral devido, em especial, ao isolamento, ao fechamento das escolas e a uma maior vulnerabilização de comunidades já bastante afetadas pelas desigualdades do Brasil. Reunimos nossos contatos e conexões para que o alimento, o lúdico, a saúde, a alegria, a aprendizagem e também a cultura de paz, chegassem a cada recanto.
Para tanto, ampliamos nossas vozes nas redes sociais, compartilhamos conhecimentos, palavras de incentivo e abrimos espaços para que especialistas de diversas áreas dialogassem e colaborassem com a clareza e qualificação de informações relevantes, em um momento marcado pela incerteza e imprecisão das palavras. Ampliamos nossos braços, e porque não, nossos abraços, onde nos fizemos presentes.
Intensificamos, também, as ações de incidência política – demanda crescente naquele contexto político e de isolamento social que, entre os desafios, estava migrar do presencial para o online. Com tudo isso, encerramos o ano de 2020 fechando um grupo de Global Leaders for Young Children (GL) com 15 representantes da América Latina – uma conquista banhada por muito diálogo e intencionalidade para colaborar com a ampliação dos olhares para as crianças desta parte do mundo -, entre eles uma consultora associada da Avante.
Nos acolhemos internamente e prosseguimos não apenas resistindo, mas avançando. Renovamos a nossa identidade visual, nossa casa virtual (site), nossa casa presencial (sede), ampliamos nossa equipe e acolhemos respeitosamente as perdas. Semeamos campos de flores. Algumas dessas sementes você pode conferir aqui neste relatório, que traz um tanto de nossas experiências, e que vem repleto do prazer de compartilhar com você e todos aqueles que buscam entender um pouco da egrégora que mantém vivo este nome: Avante – Educação e Mobilização Social, ao longo dos últimos 25 anos, completos no segundo período a que se refere este relatório.
Maria Thereza Marcilio
Presidente da Avante – Educação e Mobilização Social
Estivemos presentes em
21 municípios brasileiros,
em 10 Estados, por meio
de ações diretas dos
nossos projetos
A produção de conhecimento na Avante sempre esteve a serviço da melhoria da qualidade da educação, na defesa de direitos e na disseminação de ideais basilares para a construção de uma sociedade mais justa e solidária, calcada no diálogo, na diversidade e na valorização do coletivo. Nossas palavras alcançaram redes de educação, comunidades, importantes atores do Sistema de Garantia de Direitos e até mesmo a comunidade internacional.
As duas publicações Espaços de Maravilhamento têm como objetivo tornar visível a potencialidade dos materiais, dos contextos de aprendizagem e, a partir deles, revelar as descobertas, explorações, “maravilhamentos” e aprendizagens das crianças. Em seu conjunto, narra episódios de um percurso formativo, orientado por reflexões, tais como: Que escola as crianças têm direito de viver na sua primeira infância? O que significa oferecer espaços de qualidade na Educação Infantil?
Ambas foram elaboradas por meio de parceria com a Fundação Vale, no projeto de Formação de Profissionais da Educação Infantil. A primeira em Cariacica (ES) e a segunda em Bacabeira (MA).
Tecendo fios: ensinar e aprender traz relatos de práticas pedagógicas sobre o ensino da linguagem escrita na perspectiva da alfabetização discursiva. Elaborada ao longo do desenvolvimento do projeto de Formação continuada de professores, coordenadores pedagógicos e gestores escolares que realizamos em parceria com a Fundação Vale, nos municípios de Arari e São Luís (MA).
A publicação reúne textos de autores diversos para apoiar as reflexões sobre a primeira infância – tendo a criança como ator social, sujeito de direitos -; sobre os marcos legais que regem a proteção e os cuidados com a primeira infância; tematizam a proteção integral da criança, as competências familiares e municipais e as políticas e programas de proteção da infância. Destinada a agentes públicos da área de Saúde, Educação, e Assistência Social, Conselheiros do CMDCA e Tutelares e representantes do Poder Judiciário e da sociedade civil. Elaborada por meio de parceria com a Petrobras.
Concebida e organizada por Ivanna Castro, consultora associada da Avante, como concretização do seu projeto no programa Global Leader for Young Children (Liderança Global pela Primeira Infância / World Forum Foundation). A publicação, convida para uma reflexão sobre a relação adulto-criança pequena, com a finalidade de prover experiências que o(a) coloque em movimento e o leve ao tempo e ao espaço da criança pequena.
A publicação foi elaborada para contribuir para sensibilização e conscientização da população de Riacho das Almas (PE) sobre a problemática do trabalho infantil, sobretudo quanto aos efeitos danosos do trabalho precoce para a saúde e o desenvolvimento da criança e do adolescente. De forma mais específica, para aqueles que elaboram, implementam e monitoram as ações construídas no município, deseja-se que este material possa subsidiar a construção de novas ações de prevenção e enfrentamento ao problema. É resultado de parceria com o Fundo Brasil de Direitos Humanos, no projeto “Prote_Já – Fomento à Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil na indústria da moda na cidade de Riacho das Almas-PE”.
A Cartilha Covid-19 foi elaborada como uma ação do projeto Estação Subúrbio – nos trilhos dos direitos e distribuída para as famílias da Ocupação Quilombo do Paraíso, no Subúrbio Ferroviário de Salvador (BA). O objetivo foi prestar informações confiáveis à população sobre cuidados com a saúde, adoção de comportamentos e medidas de proteção na pandemia, a fim de permitir que as pessoas tomem decisões conscientes para se protegerem e à coletividade.
Participação em publicação
A publicação é um manual que explora o campo multidisciplinar dos estudos da infância e centra-se em indagações e investigações sobre o cotidiano de crianças pequenas, dando espaço às suas vozes e envolvendo interrogações sobre vários aspectos das suas vidas.
Maria Thereza Marcilio, presidente da Avante e John Nimmo, professor associado de Educação Infantil, na Faculdade de Educação da Portland State University, Oregon, são autores do artigo: Constructing an Inclusive Understanding of Rights from the ground up: listening to Young children through an International documentary film adventure, onde compartilham a metodologia, as descobertas e as reflexões da produção do Voices of Children – filme que documenta opiniões e experiências de crianças de cinco países sobre seus direitos.
Disponível apenas para venda.
É na incidência política que nossas vozes encontram-se em um imenso coro para pressionar aqueles que detém, em um determinado momento histórico, o poder de decisão, para aprimorar leis ou evitar retrocessos, sempre numa perspectiva democrática, buscando evitar que o autoritarismo e a ganância usurpem o que fora conquistado com muitas lutas.
Falamos de
educação e
direitos em
veículos de
imprensa
Nos articulamos e participamos de ações coletivas de defesa de direitos com instituições que estiveram à frente no cenário nacional e internacional em prol de uma Educação de qualidade para todos, pelos direitos das crianças, pela saúde e pela informação de qualidade em um momento em que a desinformação imperava no país.
lives a convite
de parceiros
Participou de audiência Pública pela inconstitucionalidade do Decreto nº 10.502 e ingressou como amicus curiae em duas ações (ADPF 751 e ADI 6590)
(LEIA AQUI).
Produzimos peças
de comunicação para esclarecer a opinião
pública e pressionar políticos nas redes
sociais:
Depoimentos em vídeos de artistas e educadores contra o Decreto 10.502 (Decreto da Exclusão):
Em 2020 lançamos a 3ª edição da pesquisa Cadê Nossa Boneca? (LEIA AQUI) que confirmou o baixo índice de oferta de modelos de bonecas pretas no mercado online brasileiro (6%). A opinião pública mobilizada pela pesquisa provocou uma manifestação do presidente da Abrinq em matéria para o Portal UOL – Vidas Negras
Durante os dois anos de muitos desafios e adaptações, em consequência da pandemia, persistimos em ações de valorização da leitura e da escrita como estratégia de alfabetização das crianças. No Maranhão, em Arari e São Luiz, municípios que estávamos em campo, fizemos um diagnóstico formativo, neste caso referente aos processos de ensino da leitura e da escrita para crianças de 05 a 07 anos (último ano da Educação Infantil e aos dois primeiros anos do Ensino Fundamental) e das aprendizagens construídas por elas. A partir deste diagnóstico, iniciamos a formação continuada para professores, coordenadores pedagógicos e gestores; monitoramento e avaliação das ações realizadas e das aprendizagens das professoras, coordenadores e das crianças. Ao final, foi elaborado, colaborativamente, material pedagógico para professores.
O foco central da ação foi contribuir com a meta 5 (alfabetização de crianças até o final do 3º ano do Ensino Fundamental); e a meta 16 (formação continuada de educadores), do Plano Nacional de Educação (PNE)
Ainda no Maranhão, agora em Bacabeira; e no Espírito Santo, em Cariacica, colocamos em prática, mais uma vez, a tecnologia de Formação de professores, coordenadores e gestores da Educação Infantil, que aperfeiçoamos continuamente nas trocas constantes com nossos públicos e já contribuiu para a melhoria da qualidade no atendimento na Educação Infantil em diversos municípios brasileiros. Com o diagnóstico em mãos, foram realizadas as formações continuadas, nas modalidades presencial e a distância, por meio do Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) da Avante, para os profissionais desse segmento foi disponibilizado kit de materiais para as unidades de creche e pré-escola, realizados seminários formativos sobre temas concernentes ao segmento e documentação de práticas de qualidade.
A ação no Maranhão e no Espírito Santo, em parceria com a Fundação Vale, em 2020, foi totalmente realizada on-line, via Google Meet ou YouTube.
Ao longo dessas experiências, no Maranhão e no Espírito Santo vividas em parceria com a Fundação Vale, foram desenvolvidas duas tecnologias sociais que, além de formação continuada, permitiu um acolhimento imprescindível naquele momento de tantas inseguranças, aproximando o que estava tão distante, permitindo continuidade na formação e reflexões sobre a prática: o Tear Literário e a Ciranda Pedagógica.
O Tear Literário – espaço-tempo de fruição estética, interlocução e construção de sentidos, encontros especialmente lúdicos, que possibilitam o (re) encontro com a literatura e com algumas linguagens artísticas importantes para a formação humana.
A Ciranda Pedagógica é um espaço de interação que, por meio da conversa dialógica, promove interações, reflexões e aprendizagem sobre o contexto do isolamento social, os desafios e as possibilidades para manter vínculos entre escola, famílias e crianças, no período de isolamento social, e para a reabertura da escola.
No município de Mata de São João (BA), por meio da parceria com a secretaria municipal de educação, implementamos a formação para profissionais da Educação Infantil, utilizando o Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) como recurso principal, garantindo o caráter reflexivo das formações continuadas ministradas pela Avante. O público da formação foi professores, coordenadores pedagógicos, gestores e equipe técnica da secretaria, beneficiando, na ponta, crianças.
A Avante atuou também no município do Paulista (PE), em parceria com o Itaú Social, pelo programa Melhoria da Educação e a secretaria municipal da educação. Desenvolvemos duas tecnologias sociais: Relação Escola – Família – Comunidade e Formação Continuada na Educação Infantil, beneficiando diretamente a equipe técnica da secretaria, gestores escolares, coordenadores pedagógicos, estudantes e famílias dos estudantes da Rede Municipal.
As tecnologias desenvolvidas no Paulista deram origem a dois cursos para a Plataforma Polo do Itaú Social: “Experiência e protagonismo: a BNCC na Educação Infantil”, que culminou como um dos mais acessados da Plataforma, com aprovação média de 92% cursistas; e o curso: “Relação família-escola: acolhimento às famílias”, desenvolvido a partir do trabalho realizado ao longo do desenvolvimento da tecnologia de mesmo nome.
Em 2021, a repactuação com o Itaú Social nos levou a Luziânia (GO) onde tivemos a oportunidade de colocar em prática, em um novo contexto, e de forma integrada, as tecnologias de Fortalecimento da relação escola – família – comunidade e Formação e gestão da Educação Infantil, na perspectiva de fortalecimento da política local, a fim de promover a melhoria da qualidade do ensino oferecido às crianças e adolescentes.
A tecnologia Fortalecimento da relação escola – família – comunidade, com o propósito de mobilizar e formar para uma melhor integração e relação entre estes três importantes atores, fortalecendo parcerias. A segunda, Formação e gestão da Educação Infantil, de colaborar com o município no desenvolvimento de práticas pedagógicas alinhadas com os princípios e conceitos existentes e propostos nos documentos norteadores nacionais para a Educação Infantil (Diretrizes Curriculares Nacionais – DCNEI/2009 e Base Nacional Comum Curricular – BNCC/2017), qualificando a Educação das crianças entre 0 e 6 anos.
A ação integrada se dá junto às equipes técnicas da secretaria municipal de Educação; gestores escolares e docentes; conselhos municipal de Educação, de Direitos da Criança e do Adolescente e Tutelar; conselhos escolares; famílias e comunidade; além dos estudantes da rede.
O impacto do isolamento social nas crianças e nos profissionais que atuam nas escolas, que se mantiveram fechadas, e o retorno às aulas foi um tema constante neste período. A relevância da intersetorialidade, em especial envolvendo o poder público (saúde, educação, assistência social) na busca por respostas e soluções aos desafios que se apresentavam, e na garantia de uma Educação de qualidade para todos na reabertura das escolas, foi temática defendida nos diálogos com nossos públicos diretos e com a sociedade.
Apoio a distância
A relevância das ações desenvolvidas no Paulista e a relação de parceria com o Itaú Social originaram uma demanda para a Avante que nos deu a oportunidade de atuar em prol da qualidade da educação nesse retorno ao ambiente escolar. Fomos convidados pelo parceiro a elaborar dois cursos que integram um sistema de gestão gratuito, criado para oferecer orientações e instrumentos que apoiem as redes municipais de educação e organizações da sociedade civil para lidar com os desafios da Educação, agravados ou surgidos a partir da crise do novo coronavírus, além de apresentar conteúdos que colaborassem com continuidade do processo educativo de crianças, enquanto durasse o isolamento.
No percurso do curso “Educação na Pandemia” é possível acessar os conteúdos elaborados ao longo do desenvolvimento da tecnologia Relação Escola – família – comunidade e Formação continuada na Educação Infantil.
Aceitamos o desafio do Coletivo Delibera Brasil e formamos o Minipúblico #DireitoàEducaçãonaPandemia, que reuniu familiares, alunos, professores e gestores de escolas públicas de Salvador (CONHEÇA) para refletir e explicitar os problemas e necessidades enfrentados naquele momento pandêmico, ampliar o debate sobre a garantia do direito à educação de qualidade para todos, mesmo na pandemia.
A ação resultou em deliberações organizadas em formato de Carta de recomendações, que fez referência a uma gestão participativa; acolhimento das famílias por parte das escolas; protocolos de segurança; investimento na comunicação entre família e escola, que não dependam exclusivamente da internet; parcerias entre escolas e associações de bairro para fortalecer a rede de comunicação comunitária; retorno dos agentes comunitários de saúde, visitando as casas com orientações corretas dos protocolos de segurança.
O documento foi endereçado a órgãos e instituições do poder público responsáveis pela normatização e implementação do planejamento para retorno das atividades presenciais nas escolas públicas municipais: Conselho Municipal de Educação (CME), Fórum de Gestores Municipais da Educação, Fórum Baiano de Educação Infantil, Comissão de Educação da Câmara de Vereadores de Salvador e à Secretaria Municipal de Educação, da qual aguardamos devolutiva.
Já no final de 2021 retomamos uma importante parceria com a secretaria municipal de Educação de Salvador para dar continuidade ao processo de melhoria da qualidade da Educação Infantil do município, iniciada no Programa Nossa Rede Educação Infantil (2014/ 2019) com a revisão do Referencial Curricular para este segmento, elaboração de materiais para crianças, professores, familiares e gestores, revisão dos Indicadores da Qualidade na Educação Infantil (INDIQUE), tomando como base o INDIQUE Nacional, adaptando-o à realidade de Salvador, e a elaboração de um sistema de monitoramento da qualidade dos serviços oferecidos às crianças e suas famílias.
Nesta retomada, o foco foi a implementação do sistema de avaliação da Educação Infantil, com o intuito de agilizar o processo de avaliação desse segmento. E uma nova revisão do INDIQUE Salvador, que passou a incluir fatores relacionados a questões sanitárias, em decorrência da pandemia do Covid – 19.
Neste período, foram dados os primeiros passos junto à equipe da secretaria (SMED) e estabelecido o compromisso de uso do sistema de monitoramento.
Nossos braços estenderam-se a cada oportunidade surgida. Famílias, crianças, profissionais, todos estavam surpresos, abalados e processando perdas dos mais diversos níveis: pessoais, profissionais e de direitos.
Juntamente com a Fundação Brasil de Direitos Humanos, com quem havíamos desenvolvido a ação de enfrentamento ao Trabalho Infantil na indústria da moda no município de Riacho das Almas (PE) em 2019, desenvolvemos ações de suporte às famílias para proteção das crianças durante à pandemia nesse mesmo município que, como tantos, sofria as consequências do isolamento e da crise econômica.
Desenhado inicialmente para atender a 100 famílias, celebramos, na entrega, o aumento dessa meta e entregamos cestas básicas, cartilha orientadora para o enfrentamento ao Trabalho Infantil, material para confecção de máscaras e kits de desenho para 150 famílias, que foram distribuídos nos Centros de Referência da Assistência Social (CRAS) do município e no PET – programa que atende crianças em situação de vulnerabilidade social.
Pensando nas crianças, houve a inclusão de um kit recreativo com papel e lápis de cera para colorir. Além de um kit higiênico com materiais de higiene e limpeza: álcool em gel e desinfetante, para reforçar o combate ao novo coronavírus. Cada família levou para casa aviamentos para a produção fabril de máscaras e uma cesta básica. Foram confeccionadas pelas famílias 7,5 mil máscaras de proteção contra a COVID-19 colaborando, também, para o enfrentamento à crise econômica.
Há quatro anos em campo desenvolvendo ações com e para crianças e adolescentes ligadas às ocupações Quilombo Paraíso e Quilombo Manoel Faustino (MSTB – Movimento dos Sem Teto da Bahia), apadrinhadas pelo projeto Estação Subúrbio – nos trilhos dos direitos – parceria com a organização alemã Kindernothilfe (KNH) -, além de crianças da Escolab Coutos, e os detentores de deveres – familiares, professores, membros do Sistema de Garantia dos Direitos (SDG) da Criança e do Adolescente e a comunidade, nos vimos desafiados a manter laços com uma comunidade vulnerabilizada, excluída em diversos níveis, entre eles do mundo digital – que se dizia tornar-se o “novo normal”.
Nosso foco na comunidade vinha sendo o enfrentamento à violência comunitária, por meio da defesa dos direitos e, em parceria com seus integrantes, a conquista de um cenário onde crianças e adolescentes se sintam, e estejam, mais protegidos por suas famílias e própria comunidade, desfrutando de uma convivência com menos conflitos e violências.
Por meio de duas estratégias, em especial, o Projeto vem colaborando, inclusive no período de isolamento social, para a melhoria das relações dos integrantes da comunidade e o acesso a direitos. A primeira, o brincar livre, reúne psicólogos que exercem papéis de educadores brincantes e, por meio de atividades lúdicas e escuta ativa, vão colaborar para a substituição de uma convivência violenta por uma cultura de paz.
A segunda, o Balcão Psicossocial, tecnologia social desenvolvida pela Avante e executada em outros projetos da instituição, atua como ponte entre as famílias e os profissionais e instituições do Sistema de Garantia de Direitos (SGD) da Criança e do Adolescente. No Balcão, uma dupla de assistentes sociais oferece escuta e suporte aos moradores, promovendo rodas de diálogo, contato com especialistas nas temáticas levantadas pelo grupo, além de auxílio na resolução de demandas sociais.
Para manter o vínculo com o público atendido e dar continuidade às ações, em especial nesse momento de maior vulnerabilização, a equipe do Projeto passou a realizar contatos e por grupos de WhatsApp, cards, vídeos, podcasts, desenvolvendo, mesmo a distância, formas de estímulo ao brincar, dando continuidade ao atendimento às famílias e colocando em pauta temáticas importantes para a defesa de direitos, tais com:
Os 14 episódios da “Áudio novela” Centrópolis – A produção foi uma estratégia para conectar crianças e adolescentes atendidos pelo Projeto com seus direitos. Os episódios foram enviados às crianças por meio de WhatsApp – uma das tecnolgias mais acessadas pelos moradores da Ocupação Quilombo do Paraíso e que, com a pandemia e suspensão dos encontros presenciais, passou a ser mais utilizada nas atividades com as crianças.
Para expandir o público e fazer a história chegar a outras crianças do Subúrbio Ferroviário, o Projeto estabeleceu parceria com rádios comunitárias locais. Com a flexibilização do isolamento a áudio novela ganhou um lançamento presencial com carro de som pelas ruas da comunidade, rodas de conversas, brincadeiras, jogos e sessão de cinema. O reencontro, realizado, obedecendo a todos os protocolos de saúde, marcou o retorno gradual das atividades presenciais.
Oficina Fotográfica – Explorando a Comunidade – O retorno gradual do presencial possibilitou o atendimento de uma demanda das crianças e adolescentes de fotografar e ser fotografado uns pelos outros. A oficina foi ministrada pelo fotógrafo documental Ismael Silva, facilitador da experiência, parceiro da Avante na ação.
Oficina Projetando Direitos – realizada com o intuito de informar e sensibilizar a população sobre uma educação sem violência e, ao mesmo tempo, mobilizar a comunidade Ocupação Quilombo do Paraíso a participar das comemorações em torno dos sete anos da Lei , no dia 26 junho/2021. Foi promovida uma roda de diálogos sobre a Lei Menino Bernardo e o uso do mapping como estratégia de dar visibilidade aos direitos e outras lutas mais, articulado com as atividades nacionais da Rede Não Bata, Eduque.
Crianças e adolescentes conversaram sobre a Lei e fizeram uma reflexão sobre a própria realidade. Além de se familiarizar com o dispositivo legal, aprenderam sobre estratégias de enfrentamento das violências no cotidiano e foram incentivados a elaborar projeções de vídeo com palavras, frases e outros elementos que contribuam com a conscientização e a promoção de uma educação sem violência.
Foi realizado um mini documentário com escuta de crianças da comunidade Ocupação Quilombo do Paraíso como colaboração da Avante para elaboração do Plano Municipal Primeira Infância (PMPI) de Salvador (BA)
As crianças falaram sobre moradia, família, violência, educação.
ASSISTA AO DOC
Em parceria com a Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental e como parte da Iniciativa Territórios pela Primeira Infância, nós celebramos a oportunidade de fortalecimento de nossa atuação pela priorização desse público nas políticas públicas. O projeto Primeira Infância Cidadã (PIC) acontece em 5 estados e 15 municípios: Angra dos Reis, Búzios, Itaboraí, Macaé e Quissamã – No Rio de Janeiro; Caraguatatuba, Cosmópolis, Mauá, São Sebastião e Ubatuba – em São Paulo; Linhares, Presidente Kennedy e Vitória – no Espírito Santo; Laranjeiras – em Sergipe; e Mossoró – no Rio Grande do Norte.
Ao longo de três anos estaremos atuando pelo fortalecimento do Sistema de Garantia de Direitos (SGD) e da sua rede de proteção. No primeiro ano de ações, pactuamos com os municípios para a adesão ao Projeto, que deram início à participação nas trilhas formativas, principal eixo estruturante do PIC, iniciando pelos “Direitos da criança: competências familiares e municipais”, a primeira das seis (06) trilhas previstas.
Também realizamos rodas de conversa para a complementação do diagnóstico que subsidiará as revisões e elaborações dos Planos Municipais pela Primeira Infância (PMPI). Alcançamos o engajamento de 400 agentes públicos ligados a instituições locais que compõem o SGD, que vêm sendo preparados para elaborar ou revisar os PMPI.
Intersetorialidade – A metodologia das trilhas favorece a articulação de setores do serviço público para atender às diversas necessidades da criança, como indica o PNPI. Para a realização das ações no contexto de pandemia, fizemos adaptação dos encontros formativos para a modalidade a distância.
Desta forma, garantimos o acesso qualificado aos conteúdos, com reflexão e em grupo, sobre as práticas cotidianas. Temas como as infâncias nos dias de hoje, com as descobertas e avanços da ciência, ou como ouvir qualitativamente, dialogar e tratar da participação das crianças nas questões que lhes afetam diretamente, aliaram-se às observações sobre a importância da consolidação de uma política para a Primeira Infância, visando a ação efetiva do Estado pela garantia de direitos dos seus cidadãos de 0 a 6 anos.
Além das formações, o PIC já realizou podcasts, seminários públicos e gratuitos, on line, e ações de rede mobilizando para questões essenciais para a garantia dos direitos, em especial a participação das crianças de 0 a 6 anos, tais como: a diversidade e a garantia de direitos na primeira infância; participação e escuta de crianças; sobre Plano Nacional pela Primeira Infância; a criança e a cidade; criança sujeito de direitos; lutas sociais e conquista legais.
Contou com a colaboração de especialistas Avante e convidados, como: Vital Didonet (RNPI); André Baniwa, empreendedor social e escritor, liderança do povo Baniwa; Bia Goulart, representante do Brasil no grupo arquitetura e infância, da União Internacional de Arquitetos – UIA.
Pandemia, isolamento, resiliência e pé na estrada
Em todos esses projetos os desafios da pandemia exigiram, por um lado, uma mudança rápida do nosso perfil de atuação, por outro, de princípios ainda mais fortalecidos, claros e devidamente publicizados.
Nos ocupamos de definir estratégias que privilegiasse os vínculos, mesmo à distância, algo que se mostrou de extrema importância num momento tão difícil para indivíduos e instituições. Nos revimos, adaptamos e mexemos nas estruturas necessárias para fazer acontecer.
Como diz o dito popular, fizemos do limão uma limonada. O importante é que seguimos atuantes, em especial em momentos em que a defesa de direitos prescinde de reforços. Hoje, nos sentimos fortalecidos e intencionamos permanecer na linha de frente, com flores, boas palavras e boas atitudes, influenciando positivamente as práticas, buscando um mundo mais equânime.
Para isso, contamos com a colaboração de cada um que, do seu papel de apoiador, financiador, formador ou formando, cidadão reflexivo, ou mero curioso questionador, nos acolha num diálogo construtivo e saudável, por um Brasil democrático e cada vez melhor.
Somos um coletivo, uma associação de pessoas transformadoras, que se constitui como uma organização da sociedade civil (OSC) para atuar pela defesa de direitos, pautada pela clareza de princípios em prol da construção e fortalecimento de uma cidadania ativa.
Nos sentimos forjadas (os) pelos desafios e à dedicação ao propósito de firmar parcerias que nos ajude a concretizar a nossa Missão de: contribuir para a formação do cidadão, pela Educação e o desenvolvimento de tecnologias de intervenção social, visando à garantia dos direitos sociais básicos e ao fortalecimento da sociedade civil.
Maria Thereza Marcílio
Presidente
Ana Luiza Buratto
Vice-presidente
Ana Marcilio
Diretora administrativo
/financeira
Andreia Fernandes
Diretora de comunicação
Rita Margarete
Diretora estratégica
Consultores Associados
Ana Luiza Buratto
Ana Oliva Marcílio
Andréa Fernandes
Deborah Selistre
Fabiola Bastos
Fátima Beraldo
Ivanna Castro
José Humberto Silva
Judite Amélia Lago Dultra
Karina Rizek
Maíra D’ Oliveira
Maria Thereza Marcilio
Mônica Samia
Rita Margarete
Sonia Bandeira
Colaboradores
Diana Chagas
Izadora Zdanowsky
Jane Dias
Luís Paulo Gomes
Marcos Coelho
Maria de Lourdes Paranhos
Ricardo Vianna
Roberta Andrade
Scheilla Gumes
Sílvia Barreto
Simone Custódio
Conselho Fiscal
José Antônio Vasques
Mariela Haidée Aranda
William Moura Santos
Conselho Consultivo
Cristiana Menezes Santos
Ordep Serra
Patrícia Monteiro Lacerda